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Investidores devem se preparar para 2015 'magro' em dividendos na Bolsa

Desaceleração econômica, crise hídrica e energética e impactos da Operação Lava Jato obrigam empresas a rever a remuneração aos acionistas

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Por Bianca Lima e Mariana Congo
Atualização:
 Foto: Infográficos/Estadão

Diante da piora do cenário econômico, empresas brasileiras de capital aberto tornaram-se mais cautelosas na remuneração aos acionistas. O objetivo é manter o caixa e fugir do mercado de crédito, em meio a um ambiente de juros altos e dinheiro escasso. Para os investidores, isso significa um ano magro no pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio.

"As empresas podem até conseguir manter o nível de lucratividade, mas serão mais criteriosas na política de distribuição de dividendos", alerta Karina Freitas, analista da corretora Concórdia. Ela avalia que nos últimos três meses houve uma piora no já desafiador quadro econômico, tanto no Brasil quanto no exterior, o que motivou esse reposicionamento das companhias.

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A persistente queda no preço das commodities e o ajuste fiscal - aliados à alta dos juros e à crise hídrica e energética - são os principais fatores internos de risco. A eles, ainda se somam os impactos do escândalo de corrupção na Petrobrás, investigados pela Operação Lava Lato, da Polícia Federal. "Isso aumenta o risco do mercado de crédito e diminui a atratividade para que as empresas emitam dívidas", afirma Karina.

Líder no ranking brasileiro de remuneração aos acionistas, a estatal admitiu na semana passada que os investidores podem ficar sem dividendos este ano. Segundo o diretor financeiro Almir Barbassa, a companhia pode deixar de pagar se entender que atravessa uma situação de "estresse financeiro", opção prevista na Lei das SAs.

Em nota divulgada na última sexta-feira, no entanto, a estatal qualificou a discussão como "prematura" e disse que só haverá uma definição sobre o assunto quando o balanço anual for divulgado - o que deve ocorrer apenas em junho, segundo as previsões do mercado.

De acordo com dados da empresa de informações financeiras Economatica, a Petrobrás distribuiu R$ 47,5 bilhões em dividendos e juros nos últimos cinco anos já fechados - em valores absolutos. Em 2013, contudo, o pagamento foi 63% menor do que em 2009, indicando uma curva decrescente.

Na segunda posição da lista está a mineradora Vale, que acumula R$ 46,9 bilhões no mesmo período e também já sinalizou uma distribuição bem menor neste ano. A empresa propôs uma remuneração mínima de US$ 2 bilhões para 2015, menos da metade dos US$ 4,2 bilhões de 2014, segundo dados preliminares do ano passado. De acordo com a mineradora, o valor - que veio abaixo das previsões - é compatível com o atual preço das commodities e reforça o compromisso com a manutenção do grau de investimento.

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"As empresas relutam em mudar suas políticas de dividendo, pois isso mexe com a sinalização de desempenho. Mas em uma situação econômica como a atual, não há quem segure. Podemos esperar redução ou não pagamento por parte de muitas companhias. Esse é o risco envolvido no investimento em renda variável", diz William Eid, coordenador do Centro de Estudos em finanças da FGV.

Elétricas.

As empresas elétricas, tradicionalmente boas pagadoras de dividendos, também serão impactadas. Após um prejuízo de R$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre, a Eletrobras já avisou que poderá, pela primeira vez na sua história, não distribuir o dividendo mínimo. A estatal registrou prejuízo nos dois últimos anos, mas mesmo assim vinha pagando seus acionistas com base em uma reserva de lucros - que se aproxima do fim.

Já a estatal mineira Cemig, que acumula R$ 11,1 bilhões distribuídos nos últimos cinco anos, alertou na semana passada que precisa manter o compromisso com o investimento. Segundo o novo presidente Mauro Borges, a empresa tem obrigações com os acionistas, mas também com os consumidores, deixando em aberto possíveis cortes na remuneração.

"Estamos vendo uma mudança de paradigma no País sobre confiar cegamente em empresas que pagam bons dividendos", comenta Pedro Paulo Afonso, diretor de investimentos da Tov Corretora. Segundo ele, o investidor deve sempre buscar companhias que garantam um pagamento mínimo em seu estatuto, já que isso aumenta o grau de proteção. Atualmente, a maior parte das companhias destina 25% do lucro aos dividendos.

"O estrangeiro não gosta de mudanças na remuneração e pode punir os papéis", diz Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Corretora.

Apesar de prejudicial no curto prazo, a redução no pagamento nem sempre é ruim. "A remuneração está relacionada com a estratégia da empresa. Cabe ao investidor buscar saber os motivos da mudança", pondera Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi.

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