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‘Investimento só volta depois da eleição’, diz presidente da Suzano

Setor produtivo aguarda resultado do ano que vem para voltar a desenvolver projetos relevantes, diz executivo

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Por Fernando Scheller
Atualização:

O atual baixo nível de investimentos das empresas brasileiras está relacionado não só à atividade econômica ainda lenta, mas também ao receio com o resultado das eleições do ano que vem, de acordo com o presidente da Suzano, Walter Schalka. “Eu não tenho dúvida nenhuma de que grandes investimentos dependem do que vai acontecer no processo eleitoral”, afirmou o executivo, em entrevista ao Estado.

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Para Schalka, a leve recuperação econômica que o Brasil vive atualmente está mais relacionada à ocupação de capacidades que ficaram ociosas durante a forte crise do que a novos projetos de grande porte. Para que o setor produtivo volte a investir de forma consistente, diz ele, as reformas estruturais precisam se concretizar – a começar pelas mudanças na Previdência.

O executivo também afirma esperar que a população não se renda a discursos fáceis – em especial a argumentos que negam a necessidade de o Estado fazer uma profunda reestruturação de suas finanças. “Quem é contra a reforma da Previdência ou age de má-fé ou não sabe fazer conta.” Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Walter Schalka, presidente da Suzano, defende a mudança da estrutura estatal do País Foto: FELIPE RAU | ESTADÃO CONTEÚDO

O que está em jogo para o Brasil na próxima eleição?

A eleição de 2018 deve ser um momento decisivo. Temos a oportunidade de renovarmos de forma relevante o nosso Congresso Nacional, trazendo pessoas melhor preparadas para a função. E temos a questão da Presidência da República, que vai dar o direcionamento para o que vai acontecer nos próximos anos no País.

Ou seja: mudar só o presidente não resolve?

Acho que o Brasil precisa passar por reformas estruturantes significativas, precisamos claramente da reforma da Previdência. Quem é contra a reforma da Previdência ou age de má-fé ou não sabe fazer conta. E ainda há as reformas política e a fiscal, que são adiadas há tantos anos. O Congresso tem de estar preparado para este debate. É a combinação de Executivo e Legislativo que vai permitir a transformação do Brasil.

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Como o sr. vê a atuação do empresariado para influenciar as eleições de 2018?

Vejo muito mais debate do que nas outras eleições, mas pouca mobilização organizada. De qualquer forma, é melhor do que nos cenários anteriores, quando havia omissão de empresários e executivos. E eu acho que a influência do Estado brasileiro na economia, que é de 41% do PIB (Produto Interno Bruto), está ligada a essa tendência do setor produtivo de não querer participar. Essa omissão ajudou a colocar o Brasil na situação de hoje. Temos de mudar isso.

Ou seja: existe uma dependência do Estado?

Sim. O Estado brasileiro é burocrático, e a legislação não é clara. Isso faz com que todo mundo tenha receio da reação do fiscal, do BNDES, da secretaria que faz alguma aprovação. Por isso, as pessoas preferem não se manifestar.

Há empresários que acham que é possível aceitar a corrupção em nome das reformas. O sr. concorda?

Não. Algumas questões são inegociáveis, e uma delas é a ética. Esse tem de ser o pilar fundamental. O Brasil passa por um momento de corporativismo, de patrimonialismo, que tem de ser combatido. E não tem como deixar de fora o lado social. É necessário garantir igualdade de oportunidades, para que as pessoas cheguem aos 17 anos com a mesma formação, para que a competição entre elas seja justa. A partir daí, vai haver, naturalmente, diferenciação.

Qual é a chance de um ‘outsider’ ganhar a eleição?

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Vejo que, infelizmente, não existe um grupo de lideranças reconhecido pela sociedade para fazer as reformas necessárias. Isso gera oportunidade para gente completamente fora do sistema (político) competir.

O sr. teme o resultado da eleição?

Não sei se a palavra é medo, mas o fato é que a eleição é muito importante. Tenho receio de que nós não estejamos dando a atenção necessária para essa eleição.

O baixo nível de investimento das empresas reflete essa apreensão com a eleição?

Sem dúvida. As empresas estão voltando a ocupar parte da capacidade que estava ociosa, mas eu não tenho dúvida alguma de que grandes investimentos dependem do que vai acontecer no processo eleitoral.

O resultado da eleição pode influenciar diretamente o crescimento do País?

Se não fizermos as reformas, vamos ter um novo voo da galinha. Sem as reformas, o Brasil corre o risco de voltar a ter uma nova crise, pois não conseguiremos conviver muitos anos com os déficits que temos hoje. Sem ajustes, vamos ficar nesse ritmo errático de cai um pouco, sobe um pouco.

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Mas a agenda de reformas não é fácil de vender...

Não é, porque a população como um todo não tem a visibilidade para isso. Mas acho que acabou aquele mundo em que o candidato poderá vender um mundo que não existe para ganhar a eleição.

O sr. vê algum benefício potencial para a economia com a agenda de reformas já em curso?

Eu pergunto qual é a reforma que fizemos até agora. Falamos muito sobre reformas, colocamos o teto de gastos, que foi muito positivo, mas não poderá ser implementado caso o déficit da Previdência continue a comer tanto da receita do Estado. Sem o déficit atual, a saúde e a educação correm o risco de entrar em colapso. Fizemos uma reforma trabalhista, que é questionada pelo presidente da associação dos magistrados do trabalho. Dizem que não vão cumprir a reforma que foi colocada. Eu ainda não consegui ver as reformas estruturantes no Brasil.

Qual é a sua visão sobre o setor público? É preciso mexer em privilégio?

Precisamos de um choque de eficiência no setor público brasileiro. A história do Brasil nos levou a um setor público corrupto, burocrático e ineficiente. Temos de pensar na estabilidade: não dá para uma pessoa prestar um concurso apenas e esquecer a essência (do seu trabalho). As pessoas não se comprometem com a eficiência. Tem um grupo de funcionários públicos dedicado a melhorar a nação, mas não é a regra. A regra geral é uma certa acomodação.

Com todos os problemas que enfrentamos após a Lava Jato, o sr. acha que as investigações deixarão um legado para o País?

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A Lava Jato foi fundamental para o Brasil. Eu só espero que nós aprendamos com o que veio para superfície, os escândalos de corrupção, que não deixemos isso voltar a acontecer. Devemos nos orgulhar por termos instituições fortes para fazer as investigações.

:: Série discute rumos do Brasil em 2018 ::

O Estado está fazendo uma série de entrevistas com empresários e executivos sobre os riscos e oportunidades para o Brasil com as eleições de 2018. Walter Schalka é o terceiro nome a participar. Nas últimas semanas, foram entrevistados Fábio Schvartsman (presidente da Vale) e Pedro Passos (sócio e conselheiro da Natura).

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