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Investimento tem o pior nível desde 1996

Taxa ficou em 15,5% do PIB no segundo trimestre; entre as causas estão o recuo da construção civil e das importações de bens de capital

Por Vinicius Neder e Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

A queda nos investimentos, marcada pelos cortes nos orçamentos dos governos federal, dos Estados e municípios para as obras públicas, puxou o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria para baixo, acendendo um sinal de alerta no início da recuperação da economia brasileira. Mesmo com a recessão ficando para trás, a taxa de investimentos foi de 15,5% do PIB, pior nível para segundos trimestres da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996.

Para especialista, retomada da economia depende do impulso aos investimentos em infraestrutura. Foto: UESLEI MARCELINO | | REUTERS

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Os dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que a queda da formação bruta de capital fixo (FBCF, conta dos investimentos no PIB) no segundo trimestre em relação ao primeiro foi causada pelo tombo na construção civil e nas importações de bens de capital, embora a produção nacional desses itens tenha se recuperado. A queda foi de 0,7% em relação ao primeiro trimestre e de 6,5% em relação ao segundo trimestre de 2016.

“O investimento é fundamental, porque aumenta a capacidade da economia e introduz progresso técnico. Sem ele, não haverá aumento sistemático da produtividade”, afirmou José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

Para ele, a economia brasileira está saindo da recessão para ficar estagnada, com crescimento “anêmico” nos próximos anos. Isso porque o impulso aos investimentos teria de vir da infraestrutura. “Mas o governo está cortando os investimentos públicos, e as privatizações e concessões demoram a sair”, disse Oreiro.

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Por outro lado, cálculos do Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (Ipea) com base nos dados divulgados ontem pelo IBGE apontam que houve melhora nos investimentos ao longo dos meses do segundo trimestre. Os dados de máquinas e equipamentos foram registrando crescimentos cada vez maiores: 1,2% em abril; 3,3% em maio; 4,1% em junho, sempre na comparação com o mês anterior. Já a construção civil voltou ao território positivo: após cair em abril (-0,5%) e maio (-1,0%), subiu 1,9% em junho.

Segundo José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, o instituto manteve a previsão de queda de 1,9% nos investimentos em 2017, seguida por um avanço de 3,3% em 2018. “É difícil imaginar uma recuperação do investimento público, mesmo no médio prazo. Então, tem de passar essa bola para a iniciativa privada. É fundamental resolver a questão regulatória e fazer deslancharem logo alguns dos projetos de privatizações”, afirmou o pesquisador.

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Encolhimento. Com menos contratação de obras públicas, a indústria da construção teve recuo de 7% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, a principal contribuição negativa para o PIB industrial, que encolheu 2,1% no período. Na visão do chefe de economia e estratégia no Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, o desempenho da indústria está relacionado ao excesso de capacidade ociosa nas fábricas.

“As recuperações anteriores do Brasil foram mais rápidas, mas está ficando claro que o processo vai ser mais lento, o que faz com que a recuperação mais forte da indústria demore mais um pouco para vir”, disse.

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Nas contas de Oreiro, por causa da recuperação lenta, o pico da atividade econômica, atingido na virada de 2013 para 2014, será recuperado só em 2023. “Se tivéssemos uma retomada do consumo das famílias com a produção da indústria, seria mais consistente.” /COLABOROU ALTAMIRO SILVA JUNIOR

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