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IPCA estável em junho é o ponto mais baixo da inflação no ano, diz economista

Para Luis Otávio de Souza Leal, do Banco ABC, é difícil um IPCA zerado novamente nos próximos meses

Por Nalu Fernandes , Patricia Lara e da Agência Estado
Atualização:

O IPCA zerado em junho deve gerar debate no mercado sobre se este foi o ponto mais baixo da inflação medida pelo indicador no ano, configurando o que economistas classificam de "barriga", ou se representa uma tendência de convergência para a meta, observa o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. "Acredito que é mais uma barriga do que uma tendência", afirmou ele, em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo.

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Para o analista, dificilmente veremos um IPCA zerado novamente nos próximos meses do ano. Ele aponta que há fatores pontuais que beneficiaram o IPCA, como a deflação de 0,90% do item alimentos, devolvendo parte da alta registrada no primeiro trimestre do ano. O economista estima que a média dos núcleos do IPCA ficou em 0,35% no mês, e o número anualizado avançou 4,3%, ficando abaixo da meta de inflação (4,5%). Mas aponta que, de forma geral, os "núcleos ainda estão elevados". A projeção do analista para o IPCA em julho é alta de 0,20%, ante a variação zero de junho.

Na divulgação de hoje, o IBGE avaliou que o resultado de junho está diretamente relacionado à realização da Copa do Mundo. Série histórica do instituto indica que, desde o Plano Real, a inflação cai nos meses de realização de Copa do Mundo ou nos meses que antecedem o evento, com os brasileiros deslocando consumo para camisetas e cornetas e reduzindo a demanda por produtos como alimentos e automóveis.

Na opinião de Souza Leal, se a Copa provocou "impacto de alteração da composição da inflação em junho, pode ser que aumente o impacto nos preços dos remédios em julho por conta da dor de cabeça que a Holanda deu ao Brasil". "Também pode diminuir, em protesto, o aumento dos preços das laranjas, por exemplo", ironiza ele, em referência à cor do uniforme holandês. O analista reconhece que pode ter ocorrido impacto em setores específicos por conta da Copa, mas argumenta que se as pessoas deixaram de comprar algo porque compraram vuvuzelas ou camisetas do Brasil, houve aumento na demanda por outros produtos. "Por exemplo, deve ter aumentado a demanda por cerveja e refrigerante", pondera.

"A Copa pode ter sido a cereja no bolo para a inflação, mas não foi o fator determinante" para a desaceleração do IPCA em direção à estabilidade (variação zero), diz ele. O analista afirma que a trajetória benigna dos alimentos foi o ponto central para o arrefecimento do IPCA, independentemente da Copa do Mundo. O economista calcula que os alimentos capturaram agora o piso da variação negativa dos preços e avalia que a deflação que vem sendo registrada por este grupo não é uma trajetória crível para o restante do ano, "principalmente chegando um período perigoso para alimentação que é o inverno, quando pode haver geadas e quebra de safras importantes".

Com a divulgação do IPCA hoje, Souza Leal diz que o indicador deve fechar o ano mais perto de 5,20% do que de 5,30%. Para 2011, ele está cético sobre a trajetória de convergência da inflação para a meta. A projeção do analista é de IPCA em 4,8% no próximo ano, pouco acima dos 4,5% da meta, mas ele destaca que o fiel da balança será o preço dos alimentos. "Em 2011 será mais crítico do que agora", avalia. Embora acredite que as primeiras divulgações de indicadores em julho possam mostrar nova desaceleração do acumulado em 12 meses, suscitando dúvidas quanto à trajetória da inflação, Souza Leal avalia que o acumulado em 12 meses deve ter aceleração a partir de agosto.

O economista aponta que os indicadores divulgados nesta quarta-feira, 7, IPCA e IGP-DI, e uma sequência de outras notícias sobre inflação podem deixar os agentes do mercado tentados a apostar em uma redução no ritmo de alta do juro, "mas seria precipitado fazer isso", afirma. Ele cita que a primeira prévia IGP-M em julho, que será divulgada na sexta-feira, pode trazer um número em deflação que não seria condizente com a trajetória que os IGPs vão ter neste mês. "Assim como a primeira prévia do IGP-M em junho teve distorção grande do resultado por conta da captura dos custos do minério de ferro, é provável que tenha efeito reverso agora, com deflação do número na sexta-feira", prevê.

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Para ele, o Copom deve manter o ritmo de aperto monetário em 0,75 ponto porcentual na reunião deste mês e também em setembro. Em outubro, a taxa deve ser elevada em 0,50 pp, com a Selic passando para 12,25%, diz ele, apontando que há o risco de a alta total ser superior a esta projeção. Para o crescimento do PIB, suas projeções indicam expansão de 7,6% neste ano e de 4,8% em 2011. 

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