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IPCA trimestral é menor desde o início do Real

Em março, índice desacelerou e ficou em 0,25%, puxado pelos preços menores dos combustíveis

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - A inflação encerrou o primeiro trimestre com a menor alta registrada desde o início do Plano Real, quando os índices voltaram a níveis “civilizados”. No período de janeiro a março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação do País, subiu 0,96%. Apenas em março, a alta foi de 0,25%, uma desaceleração em relação aos 0,33% registrados em fevereiro, de acordo com dados do IBGE.

Segundo a coordenadora de Índices de Preços do instituto, Eulina Nunes dos Santos, a demanda deprimida está fazendo efeito nos preços. “As pessoas não estão comprando. O consumo está bastante inibido”, disse a pesquisadora.

Maior parte do índice de março ficou na conta da energia elétrica Foto: Itaci Batista/Estadão

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A queda nos preços dos combustíveis foi o principal responsável pela desaceleração em março – a gasolina ficou 2,21% mais barata e o etanol recuou 5,1%, após a Petrobrás reduzir preços de combustíveis no fim de fevereiro. No trimestre como um todo, o destaque foi o alívio nos preços de alimentos. No acumulado de janeiro a março, eles subiram apenas 0,24%, ante 4,65% no início de 2016, quando seca em algumas regiões e chuvas demais em outras atrapalharam a produção.

Em 12 meses, o IPCA acumula agora uma alta de 4,57%. Com isso, é quase certo que, em abril, o índice ficará abaixo dos 4,5%, o centro da meta de inflação perseguida pelo Banco Central (BC). O cenário, segundo analistas, reforça as projeções de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC fará um corte de 1 ponto porcentual na taxa básica de juros (a Selic, hoje em 12,25%) na próxima semana.

Há até quem veja até espaço para cortes maiores na Selic imediatamente. “A inflação está arrefecendo, e isso está ficando cada vez mais disseminado. Isso permite um corte de 1,25 ponto porcentual”, disse o economista Daniel Silva, do Modal Asset Management. A grande maioria dos analistas, porém, projeta mesmo um corte de 1 ponto na taxas.

Alimentos. Isoladamente em março, o grupo Alimentação e Bebidas avançou 0,34% no IPCA, ante uma deflação (quando os preços ficam, na média, mais baratos) de 0,45% em fevereiro. “De fevereiro pra março, o movimento foi explicado por itens ligados à Semana Santa”, disse Eulina. Estão na lista das maiores altas de março produtos muito consumidos na Páscoa, como ovos (5,86%), batata-inglesa (5,08%), pescado (3,43%) e chocolate (0,73%). O maior destaque de alta, porém, foi o tomate, com 14,47% – em 12 meses, porém, o preço do tomate registra queda de 26,92%.

Por outro lado, o cenário geral para os preços de alimentos no ano é positivo, lembrou a pesquisadora do IBGE. Como as altas de março foram em itens pontuais, no resto do ano deverá prevalecer a expectativa da supersafra de grãos, que deverá aumentar a oferta.

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Para Marco Caruso, economista do banco Pine, os preços dos alimentos poderão voltar a ficar mais baratos nos próximos meses. Em relatório, economistas do Bradesco projetaram que o IPCA ficará em 0,15% em abril.

Com isso, Eulina reconheceu ser “mais ou menos óbvio” que a inflação irá abaixo de 4,5% no acumulado em 12 meses até abril. Em abril de 2016, o IPCA ficou em 0,61%, e qualquer variação inferior a essa fará o acumulado em 12 meses desacelerar.

“A tendência agora é de a inflação continuar caindo. Até porque, de abril até agosto do ano passado, a inflação mensal apresentou valores muito altos para esses meses”, avaliou Heron do Carmo, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), que espera 3,60% para o IPCA de 2017/COLABORARAM THAÍS BARCELLOS, MARIA REGINA SILVA E FRANCISCO CARLOS DE ASSIS

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