Não chega a ser novidade porque alguns países, como a Dinamarca e a Suíça, já vinham adotando procedimentos em que o aplicador de recursos nos bancos tinha de pagar por manter seus depósitos, sem nenhuma perspectiva de rendimento.
Mas, desta vez, são os grandes bancos centrais que passam a trabalhar com juros negativos ou se mostram dispostos a isso.
No dia 29 de janeiro, o Banco do Japão (banco central) anunciou que as reservas novas dos bancos do seu sistema teriam de pagar juros de 0,1% ao ano. O Risksbank (banco central da Suécia) derrubou terça-feira os juros básicos a menos 0,5% ao ano. Na quarta-feira, a presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), Janet Yellen, lembrou que em 2008 o órgão estudou trabalhar com juros negativos, mas ficou nisso. É uma possibilidade não descartada, sujeita a análises e tal. O presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mario Draghi, já adiantou que pode chegar a esses termos. E o Banco da Inglaterra (banco central) também já passou sinais de que pretende avançar por aí.
Por que juros negativos? Porque nem com juros próximos de zero as economias dos grandes países estão reagindo ao marasmo. Isso vai tirando capacidade de tração da política monetária, especialmente diante da enorme ameaça de deflação, situação em que a economia tenderia a andar para trás, porque o consumidor vai adiando suas compras à espera de preços mais baixos. Do ponto de vista dos bancos e do investidor, aceitar juros negativos é dar prioridade à segurança e não ao retorno.
O primeiro objetivo da adoção de juros negativos é levar os bancos a aumentar suas operações de crédito, com as quais, em vez de pagar, lucrariam alguma coisa. O problema é que, nos países avançados, não há hoje demanda por investimentos porque o setor produtivo está funcionando na base do devagar-quase-parando. E o início de um processo de juros negativos pode provocar reação contrária: os investidores podem adiar a tomada de empréstimos para consumo ou investimento na rede bancária, no pressuposto de que, mais adiante, os juros podem cair ainda mais.
Outro efeito tende a ser a desvalorização das dívidas. As aplicações financeiras rendem menos e, em consequência disso, todo o patrimônio financeiro perde valor, pelo efeito marcação a mercado (valor presente dos ativos). Levando-se em conta que os grandes bancos centrais, especialmente o Fed, o Banco da Inglaterra e também o Banco Central Europeu, terão de começar a devolver montanhas de títulos comprados no auge da crise para despejar dinheiro no mercado, a desvalorização dos títulos causada pelos juros negativos acabará somando-se à desvalorização produzida pela desova dos balanços dos bancos centrais.
A perda de valor dos títulos tende a atingir em cheio as carteiras dos fundos de investimento e dos fundos de pensão. Se for estendida a prazos mais longos, um regime de juros negativos tende a derrubar os retornos dos pensionistas.
Essa é uma situação inversa à existente no Brasil, onde os juros estão no pico dos 14,25% ao ano. Juros negativos lá fora seriam ótima oportunidade para a economia brasileira que poderia abastecer-se de crédito muito barato. No entanto, a desordem das contas públicas e o aumento do risco de calote são fatores que, por si sós, afastam os investidores do País.
CONFIRA
Apenas nestes primeiros nove dias úteis de fevereiro, os preço do petróleo vendido em Nova York (WTI) caiu 16,3%. Até esta quinta-feira, a baixa acumulada neste ano já é de 31,4%.
Mercado baixista Os estoques vão se acumulando e não há quem aposte na recuperação consistente dos preços, pelo menos até junho. A decisão do cartel da Opep é não baixar a oferta. E nessas condições, o resultado está sendo o inverso. A produção da Opep continua crescendo e deverá aumentar ainda mais a partir do momento em que o Irã começar a venda de sua produção.