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Kátia Abreu denuncia pressão do PMDB para manter líder da 'quadrilha da carne' na Agricultura

Segundo a senadora, deputados do PMDB atuaram para impedir o afastamento de Daniel Gonçalves Filho, considerado o líder da 'quadrilha' pela PF, da pasta

Foto do author Julia Lindner
Por Isabela Bonfim , Julia Lindner e Erich Decat
Atualização:

BRASÍLIA - A senadora e ex-ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB-TO), denunciou nesta terça-feira, 21, em discurso em plenário, a atuação de deputados do PMDB do Paraná para impedir o afastamento de Daniel Gonçalves Filho do Ministério da Agricultura quando ela ainda chefiava a pasta. Daniel é considerado pela Polícia Federal o líder da "quadrilha" revelada na operação Carne Fraca. A senadora não citou nomes durante seu discurso. 

"Esse cidadão que foi nomeado tinha processos administrativos no ministério e eu nunca vi, em todo o tempo que lá estive, e nunca tive notícias de uma pressão tão forte para não tirar esse bandido de lá", afirmou Kátia Abreu. A senadora relatou sua tentativa de demitir o indicado e pressão inversa que sofreu de deputados do seu partido. 

A senadora Kátia Abreu (PP-TO) Foto: André Dusek/Estadão

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"Dois deputados do meu partido insistiram que a lei não fosse cumprida ao ponto de eu ter que ligar para a presidente Dilma e comunicar da minha decisão de demitir e avisar que, com as consequências políticas, eu iria arcar. E ela disse: Demita já", relatou Kátia Abreu. 

Segundo apurou o Estado a senadora se referia ao atual ministro da Justiça, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e ao deputado Sérgio Souza (PMDB-PR), que chegaram a visitá-la no Ministério da Agricultura para impedir a demissão do indicado político. Os deputados ainda não responderam sobre a acusação.

O indicado em questão é Daniel Gonçalves Filho, preso na última sexta-feira durante a operação Carne Fraca da Polícia Federal. De acordo com a senadora, Daniel foi indicado para a Superintendência do Ministério da Agricultura no Paraná por deputados do PMDB do Estado. Ela chegou a relatar ainda que o nome não possuía a aprovação do senador paranaense e colega de partido Roberto Requião (PMDB-PR). Mas que, após as pressões, ele mesmo recuou das indicações e disse que ela poderia aceitar a sugestão dos deputados. 

Críticas. A senadora também não poupou críticas a condução da Polícia Federal na operação da última sexta-feira que, em seu entendimento, é prejudicial para o setor da pecuária brasileira. "Desde sexta-feira que nós estamos assistindo nos canais de comunicação, televisão, rádio, jornais, redes sociais, uma verdadeira operação de destruição da pecuária de corte, bovina, suína e de aves. Isso não tem nome, isso é um crime de lesa-pátria", disse. 

Apesar de apoiar a atividade da Polícia Federal, a senadora se disse preocupada com a forma como a operação foi divulgada e as consequências que pode trazer para o setor. "O preço do boi vai cair, vamos perder nossas exportações. Mas o mais grave: vamos perder empregos em uma hora crítica, em que temos tantos desempregados. Essa é uma culpa que vocês, pequeno grupo da PF, também vão carregar. Tentaram com uma ação medíocre, infantil, baixa, destruir um dos setores mais importantes desse País", analisou a senadora. 

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Abuso de autoridade. Por fim, a senadora defendeu ainda a aprovação do projeto que atualiza a lei de abuso de autoridade, amplamente criticado por entidades ligadas ao Judiciário. "Trinta e três servidores não podem manchar a história do Ministério da Agricultura. Não permitiremos que um delegado e meia dúzia de chefes de polícia manchem a Polícia Federal. Vamos aprovar sim a lei de abuso de autoridade, doa a quem doer. Não é só pra juiz, é pra todos aqueles que afrontam e se julgam estrelas acima do bem e do mal", afirmou.