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Levy tenta acalmar investidor estrangeiro

Ministro ligou para investidores e reafirmou compromisso com controle de gastos; governo teme agora corte de nota pela Fitch e pela Moody’s

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes e Bernardo Caram
Atualização:

BRASÍLIA - Depois do anúncio da revisão da perspectiva da nota do Brasil pela Standard & Poor’s, a preocupação do governo agora é com o risco de as outras duas agências principais (Fitch e Moody’s) seguirem o mesmo caminho. Em conversas nesta terça-feira com investidores estrangeiros para tranquilizar o mercado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou o compromisso do governo com o controle de gastos e da trajetória da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB).  Com mais uma notícia ruim para a economia, a avaliação que ganhou força no governo foi a de que a decisão da S&P pode fazer o Congresso “acordar” e aprovar as reformas necessárias o mais rápido possível. Levy reforçou nos contatos com os investidores a necessidade de apoio dos parlamentares às medidas de ajuste fiscal e de estímulo ao crescimento. O papel do Congresso será fundamental para evitar o risco de perda do grau de investimento ficou mais em evidência, diante do relatório da S&P que apontou preocupações com as turbulências políticas no País.

O ministro da Fazenda Joaquim Levy Foto: Estadão

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Embora temida pela área econômica e até certo ponto esperada por causa da crise política associada ao baixo crescimento, a revisão da perspectiva da nota do Brasil surpreendeu pelo momento do anúncio. A equipe econômica não contava com um movimento da S&P “para agora”. O governo recebeu a informação da S&P no fim da manhã.  O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse esperar que o viés negativo de rebaixamento não se concretize. “Trabalhamos para melhorar a situação econômica do País”, disse o ministro, depois de conversas com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Levy não comentou a decisão.  Efeito contágio. A expectativa dada como certa na equipe do governo era a de um rebaixamento pela Moody’s, o que colocaria a nota do Brasil na mesma situação da S&P. Uma missão da Moody’s esteve no Brasil este mês para a avaliação da nota brasileira e, agora, o movimento da S&P pode contaminar a decisão. A Fitch já esteve no Brasil este ano, quando decidiu não mudar a nota, mas pode fazer uma revisão para seguir as concorrentes. Nenhuma agência se sente confortável quando fica muito atrás na avaliação do rating, o que alimenta uma “competição” entre elas. Para integrantes do governo, a S&P não quis ficar atrás da Moody’s, que ainda terá de anunciar o resultado da sua revisão.  “O risco de as outras seguirem é grande”, reconheceu uma fonte da área econômica. O governo vai trabalhar agora para evitar essa contaminação, buscando ampliar o diálogo ainda mais e tentando mostrar que há direção.  O que mais pesou na decisão da S&P foi a incerteza política do cenário brasileiro, que contamina as decisões do Congresso e agrava a crise de confiança na economia. A revelação de um quadro fiscal muito pior no curto e médio prazos, com a reprogramação fiscal de 2015-2018, foi a “gota d’água”. 

Cunha. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse nesta terça-feira que a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s se trata de uma constatação que confirma o que ele vem falando nos últimos dias. “A Standard & Poor’s começou um processo que deverá ser replicado pelas demais agências que medem o grau de investimento. É preocupante sim”, comentou. Para o peemedebista, o cenário é negativo devido à deterioração da atividade econômica e “pela incapacidade do governo cumprir compromissos”. “Por isso a revisão da meta (fiscal)”, disse. Cunha rebateu as declarações do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que, em entrevista ao Estado, apontou o Congresso Nacional como um dos responsáveis pela deterioração do cenário econômico do País. Rompido com o governo e logo após reunião com o ministro Nelson Barbosa (Planejamento), disse que “talvez, Levy não saiba lidar com a economia ou não saiba lidar com o Congresso. Todas as medidas do chamado ajuste fiscal dele foram aprovadas pela Câmara”, afirmou. / RACHEL GAMARSKI, DANIEL CARVALHO, DAIENE CARDOSO e RICARDO BRITO

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