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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Mais desemprego

Desemprego é como ressaca; só aparece depois do pileque; Se a recessão está aumentando é inevitável que venha mais desocupação.

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Atualização:

Lá se foram os tempos do pleno-emprego ou de quase isso, situação que perdurou nos últimos três anos.

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O desemprego já não se contém na faixa dos 5% ou 6%. Aumenta sensivelmente, não só porque as dispensas de pessoal pelas empresas estão aumentando, mas também porque gente que antes achava que não precisava trabalhar saiu da moleza e passou a garimpar o que fazer. 

O desemprego (desocupação) passou de 6,4% em abril para 6,7% em maio, proporção que há cinco anos não se via para meses de maio.

Como a pesquisa de emprego do IBGE alcança só seis regiões metropolitanas (São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Salvador), as de maior atividade econômica, é provável que no Brasil inteiro o índice de desocupação já esteja mais alto.

 Foto: infograficos/estadao

Junto com a queda do emprego, cai também a renda do trabalhador. Pelos levantamentos do IBGE, em maio a massa de renda real (descontada a inflação) caiu 1,8% ante a de abril e 5,8% em relação a de maio de 2014. O orçamento do trabalhador está encolhendo.

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Menos trabalho e menos renda é uma dupla condição que faz parte do quadro de recessão. Reflete a redução do poder aquisitivo já mencionada. O impacto que mais aparece é a desaceleração ou até mesmo a queda das vendas do comércio e a redução da atividade econômica. É efeito em cascata.

Ao longo de todo o ano passado, e mesmo antes disso, os pesquisadores vinham acusando a existência de uma camada da população em condições de trabalhar, mas que preferia ficar de papo pro ar, porque tinha quem a sustentasse. A vida dura e o salário curto de quem aguentava o tranco em casa estão empurrando essa gente para o mercado - e na pior situação, quando os encarregados de negócio pararam de contratar.

Não há sinal de melhora da economia. Ao contrário, a recessão tende a se aprofundar nos próximos meses. Os juros, por exemplo, devem aumentar ainda mais econtribuir para derrubar a demanda, que é o objetivo da política de metas de inflação.

Isso sugere que o desemprego ainda tende a aumentar. A gente sabe disso porque desemprego é como ressaca; só aparece depois do pileque. Se a recessão está aumentando é inevitável que venha mais desocupação. Como este é um fator que emperra ainda mais as vendas e a produção, segue-se que desemprego tende a gerar mais desemprego.

Um dia essa roda haverá de quebrar. Mas não se sabe quando. Os ministros da área econômica achavam em janeiro que a virada viria neste segundo semestre. Agora falam em primeiro semestre de 2016. Mas não dá para garantir o cumprimento desse cronograma. Tudo depende da eficácia do ajuste da economia e do resto, especialmente de que não sobrevenham surpresas políticas internas adversas ou choques econômicos externos que empurrem a economia brasileira mais para baixo.

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Surpresas políticas adversas acontecem mais facilmente quando as coisas não vão bem. Refletem, em âmbito nacional, aquilo que acontece dentro de casa: quando falta pão, todos berram e ninguém tem razão.

CONFIRA:

 Foto: infograficos/estadao

Veja a evolução da arrecadação federal nos sete últimos meses.

Derrubada É outro setor que decepciona. A arrecadação do governo central em maio ficou 15,6% mais baixa do que a de abril e 4% mais baixa do que a de maio do ano passado. É um tombo maior do que vinha sendo projetado até mesmo pelos pessimistas. A principal causa é mais do que conhecida: a recessão, que derruba as vendas, a atividade econômica e a renda, que são a base tributária dos impostos. Receita tão fraca derruba qualquer meta fiscal.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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