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Economia e outras histórias

Mais informalidade explica discrepância entre Caged e PME

Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Desvendado o já bem conhecido enigma do baixo desemprego em ambiente econômico de estagnação - a resposta está no recuo da população economicamente ativa -, um novo aparente enigma surge no mercado de trabalho: o que explica a redução da taxa de desemprego para níveis historicamente baixos, na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, quando o número de desligamentos supera o de admissões, no mercado formal, medido pelo Caged, do Ministério do Trabalho? Há razões metodológicas para a discrepância. A primeira - e mais óbvia - é que o Caged processa informações do mercado de trabalho com carteira assinada, fornecidas pelas empresas de todo o País, enquanto a PME, que determina a taxa de desemprego, é apurada com base numa amostra restrita às seis principais regiões metropolitanas. Outra diferença importante se prende ao fato de que, enquanto o Caged só abrange o universo dos ocupados com carteira assinada, a PME captura trabalhadores com carteira, sem carteira ou que trabalham por conta própria. Tais características distintas fazem com que, por exemplo, como observam os economistas Fabio Romão e Bruno Campos, da LCA Consultores, o peso da indústria, o segmento mais formalizado, seja maior no Caged do que na PME. Uma vez que a indústria é o setor em que as demissões têm sido mais acentuadas, parte da contração registrada no Caged não é captada na PME. Esse tipo de situação tem se repetido em outros setores e é particularmente curiosa no caso da construção civil. No Caged de outubro, o fechamento de vagas formais no segmento foi forte e superou 30 mil, mas, no mesmo mês, a PME apontou um aumento na ocupação setorial de 1,4% sobre outubro de 2013, apesar da queda de 4,1% nos empregos formais, na mesma comparação. Houve, pode-se concluir, um deslocamento de trabalhadores formais para a informalidade ou para o trabalho por conta própria. O mercado de trabalho está se enfraquecendo gradativamente, em resposta à estagnação da atividade econômica, mas isso não aparece na taxa de desemprego por pelo menos duas razões principais. A primeira é a redução mais acelerada da população econômica ativa, em relação ao ritmo de queda da população ocupada. A outra, que denota tendência de precarização no mercado de trabalho, é o aumento da informalidade.

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