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Mais pobres se sentem protegidos

Programas de assistência pública, espírito colaborativo e consumo de produtos mais baratos graças a sonegação de impostos aliviam dificuldades

Por Alexa Salomão (Texto) e Daniel Teixeira (Fotos) - Enviados especiais
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BUENOS AIRES - A vida dos mais pobres costuma piorar nas crises. Na Argentina, não é diferente, mas o país tem paliativos para essa camada da população. O conjunto de favelas conhecido como Villa 31 e Villa Bis, por exemplo, o maior complexo do gênero em Buenos Aires, não para de crescer. Estima-se que, nos últimos cinco anos, tenha recebido 13 mil novos moradores e a população já passe de 40 mil. 

Favela Villa 31 já reúne mais de 40 mil moradores Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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“As pessoas deixam as províncias e outros países em busca de oportunidade, se hospedam em casas de amigos ou parentes e vão ficando - pode parecer que as coisas não vão bem aqui, mas de onde essas pessoas vieram está pior”, diz a paraguaia Silvia Manzoni, moradora há 30 anos e uma das representantes da comunidade na prefeitura - no jargão local, uma delegada. 

O portenho médio evita as cercanias da 31, mas quem está do lado de dentro diz que tem muitas vantagens. “Nenhum produto que entra aqui pagou impostos, as coisas são muito mais baratas”, explica Maria Gutierrez, que tem uma loja de colchões na rua comercial do complexo, um centro de compras completo. 

Também não é difícil encontrar moradia a baixo preço. Para acomodar os recém-chegados, as casas ganham pisos. O novo andar é acessado por escadas de metal em forma de caracol, fixadas na parte externa da estrutura. Há casas com seis, oito pavimentos. Construí-los custa pouco. O material é comprado com as vantagens já descritas e a obra é feita em regime de mutirão. 

Assistência pública. Quem vive nas “villas” ainda recebe auxílios do governo. Há de tudo: cestas básicas, tíquetes. E até pagamentos em dinheiro que lembram o Bolsa Família do Brasil. A diferença é que lá a proporção de assistidos impressiona. Pelas estimativas da Universidade Católica Argentina, 23% da população - algo como 10 milhões de pessoas - está em um dos muitos planos de assistência social do governo. 

Do outro lado da cidade, num complexo que reúne as Villas 11, 14 e 21, Elizabeth Garay, jovem mãe de 23 anos, todos os dias leva Emanuel de um ano e Brisa, de 5 anos, para tomar café da manhã e almoçar no La Gemelas, um dos 350 “comedores” da capital. Os comedores são restaurantes populares mantidos pela prefeitura em áreas carentes, mas administrado por moradores. Lá a comida é de graça. 

O casal Suzana Quiroga e Carlos Gimenez, responsável pelo refeitório e pela preparação da comida do La Gemalas há mais de 20 anos, está preocupado. “Deveríamos servir 300 refeições, passamos para 350 e agora são 400 - cada vez mais gente vem comer ”, diz Suzana. “Apesar de o governo negar, as coisas estão mais difíceis e a comida mais cara - muita gente não consegue se manter”, completa Gimenez.

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Um dos programas mais ativos no momento é o da prefeitura de Buenos Aires que tem base de apoio com cozinha, posto de saúde e 50 vans para tentar alimentar e levar quem dorme nas ruas para abrigos instalados em 11 ginásios esportivos. Segundo a prefeitura, é pequeno o número de pessoas assistidas que podem ser consideradas vítimas exclusivas da crise. No entanto, na noite de terça-feira passada, entre os que buscavam um prato de sopa quente estava Maurício Oscar, desempregado de 29 anos, frustrado porque acabara de gastar seus últimos pesos.

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