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Mão de obra barata é desafio para os carros autônomos

Substituição do trabalho humano por novas tecnologias esbarra na contradição de essas inovações reduzirem cada vez mais os salários

Por ECONOMIST.COM
Atualização:

Empresas de tecnologia que vão do Google à Audi fizeram incríveis avanços na tecnologia dos veículos autônomos nos anos mais recentes. Este progresso é ainda mais notável se considerarmos que, dez anos atrás, os tecnólogos concluíam que dirigir era uma tarefa quase impossível de ser automatizada. Mas, apesar do extraordinário ritmo das melhorias, os carros sem motoristas ainda atraem muitos céticos. Alguns acreditam que advogados e reguladores vão impedir que esses carros alcancem seu pleno potencial, embora muitos governos locais tenham se mostrado abertos à criação de regras para os veículos sem motorista. Outros críticos dizem que os obstáculos tecnológicos podem se mostrar quase impossíveis de superar. Mas essas preocupações parecem exageradas, pois o progresso recente indica que é fácil superestimar os obstáculos e as limitações que restam se assemelham ainda mais às enfrentadas pelos humanos. Numa reportagem para a Slate, por exemplo, Lee Gomes diz que os carros sem motorista passam por dificuldades em território desconhecido quando não contam com bons mapas. Eles podem cometer erros quando o sol cega suas câmeras e são ocasionalmente surpreendidos pelo surgimento inesperado de nova sinalização de trânsito. Os motoristas humanos também sofrem com esses problemas, é claro, além de outros, como dificuldades de operar em condições climáticas adversas. Nesses casos, a grande diferença entre os carros sem motorista e os humanos é o fato de o computador ter a possibilidade de ser programado para se comportar com cautela diante das variáveis adversas, enquanto os humanos costumam ser indiferentes. Ao criticar os carros sem motorista, é sempre bom ter em mente que motoristas humanos matam e aleijam milhões de pessoas por ano. Ironicamente, o maior obstáculo ao amplo uso dos veículos sem motorista, pelo menos para os próximos 10 ou 20 anos, pode ser o efeito do rápido progresso tecnológico em outras partes da economia. Como explica um recente relatório especial, a mudança tecnológica na geração mais recente eliminou muitos empregos de habilidade intermediária, levando milhões de trabalhadores a concorrerem por trabalho de baixos salários. Essa fartura de oferta de mão de obra contribuiu para a estagnação dos salários, e a baixa remuneração, por sua vez, reduziu para as empresas o incentivo às tecnologias de substituição do trabalho humano. Por que buscar a automação quando há uma imensa oferta de mão de obra barata? Ao mesmo tempo, empresas como Uber estão tornando o uso de carros alugados mais barato e conveniente.Desafio. A combinação do Uber (aplicativo que coloca passageiros em contato direto com motoristas) e da mão de obra barata pode ser um grande desafio para o carro sem motorista. O custo dos sensores e processadores para pilotar um carro autônomo está caindo, e deve seguir nessa tendência com o aumento da produção. Mas a tecnologia ainda é cara, especialmente quando comparada a um ser humano. Com o salário baixo, o motorista com um smartphone é um concorrente formidável para um carro sem motorista. Seria uma notável ironia se o carro sem motorista deixasse de se materializar enquanto realidade econômica graças ao poder de outras tecnologias de afetar negativamente o emprego. Seria também uma ilustração perfeita de como a estagnação nos salários pode provocar a lentidão no crescimento em termos de produtividade medida. A possibilidade de um mundo no qual uma parcela relativamente grande da população trabalha como motorista, simplesmente porque o trabalho se tornou barato demais para que essa função seja automatizada, deveria levar as mentes a se concentrarem na natureza do desafio de políticas públicas que as economias passam a enfrentar. Será que o trabalho é tão importante para a sociedade a ponto de desejarmos que milhões de pessoas funcionem como meatware - ocupando-se de funções que sensores e computadores poderiam desempenhar se não houvesse um excesso de humanos precisando de trabalho para garantir seu abrigo e alimento? / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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