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Mão de obra corre atrás do prejuízo

Iniciativas públicas e privadas capacitam trabalhadores para novas tecnologias rurais

Por ANA COSTA
Atualização:

Basta ir a campo, conversar com agricultores dos mais variados segmentos, para ouvir a mesma reclamação: a falta de mão de obra rural. E, quando há, a crítica passa a ser a sua baixa qualificação. "A falta de capacitação gera uma situação pouco saudável. O produtor muitas vezes tem interesse em qualificar seu funcionário. Mas esse profissional passa a ser intensamente disputado e não dura mais de dois anos em cada fazenda", diz o gerente de Planejamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Cid Sanches.Para agravar a situação, o atual alto nível de sofisticação no campo passou a exigir um funcionário qualificado tecnologicamente, que não tem sido formado na velocidade necessária. Por isso o setor reivindica ampliação do acesso à formação profissional, começando pela escolarização básica. "Muitos trabalhadores não têm condição de fazer um curso técnico por falta de alfabetização", afirma o secretário de Assalariados e Assalariadas Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Elias D'Ângelo. Nível superior. Segundo ele, é preciso intensificar as ações de qualificação profissional dos institutos federais, bem como o acesso a universidades. Conforme o chefe da Divisão Técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Jair Kaczinski, "não só existe analfabetismo no campo, como existe o analfabetismo funcional". Como proposta para superar essas desigualdades, a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sugere políticas educacionais para o campo, com currículo básico nacional comum. A CNA ressalta a formação específica para a educação rural continuada, com melhoria da infraestrutura de todas as escolas rurais do País a partir de definição de um padrão mínimo nacional de qualidade e desenvolvimento de materiais e softwares educacionais voltados para a realidade do campo. Demanda urgente. Medidas de apoio à educação, profissionalização, capacitação e acesso à tecnologia para a cadeia produtiva, especialmente ao produtor rural, são demandas urgentes. "Isso ainda não foi feito. Os trabalhadores rurais não estão preparados para o processo mais tecnificado, o que causou grande desemprego no campo", diz D'Ângelo. Para ele, a qualificação profissional apareceu com mais força a partir da criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e das escolas e institutos técnicos criados no Brasil nos últimos anos, "mas a situação está muito longe de chegar ao ideal", sentencia.O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) também vem, desde 1993, atuando na área de formação e capacitação dos trabalhadores do campo, contabilizando, segundo Kaczinski, mais de 3 milhões de participantes. "O Senar faz a capacitação de mão de obra para o trabalhador independentemente de onde ele reside. O que nos importa é o seu local de trabalho. Um treinamento específico para ordenha é na sala de ordenha. É um treino prático."O Senar oferece, gratuitamente, cursos e treinamentos de formação profissional em 300 ocupações do meio rural. Entre as propostas defendidas pela entidade está o estímulo a outros ministérios e órgãos do governo federal para reforçar as parcerias com a entidade, com o objetivo de ampliar as vagas e cursos do Pronatec para o Brasil rural, além de parceria com o governo federal, universidades e institutos federais para ampliar a assistência técnica e extensão rural a todo o País. Para isso, propõe a Alteração do Decreto nº 6.170, de 25/7/2007, que dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União aos Serviços Sociais Autônomos e da Portaria Interministerial nº 507/2011.Soja Plus. Na iniciativa privada, funciona também o Soja Plus, criado em 2011 pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e pela Aprosoja-MT. O Soja Plus é um programa gratuito, voltado ao produtor rural, que recebe cursos teóricos e práticos e assistência técnica individual em suas propriedades. Desde 2011, foram realizadas oficinas de campo para 4.630 produtores rurais; oferecidos 81 cursos de 16 horas/aula para 1.620 produtores; distribuídas 75 mil pecas de orientação para prevenção de acidentes; 800 fazendas foram beneficiadas com 1.547 visitas técnicas. "A capacitação, bem ou mal, vem ocorrendo", diz Cid Sanches, da Aprosoja. "Mas o que o próximo governo poderia pensar é em elaborar lei específica para o trabalho rural, atualmente regulado pela CLT. O trabalho rural é muito específico e diferente do trabalho urbano."

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