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Marfrig desembolsa R$ 3,2 bilhões para comprar 24% das ações da BRF

Dois anos depois da tentativa frustrada de fusão entre as gigantes dos alimentos, empresa de Marcos Molina compra papéis na Bolsa e prepara terreno para, a partir de 2022, passar a ditar o rumo da dona de Sadia e Perdigão

Foto do author Cynthia Decloedt
Por Julliana Martins e Cynthia Decloedt (Broadcast)
Atualização:

A Marfrig adquiriu via Bolsa cerca de 24% de participação em outra gigante dos alimentos, a BRF, em um movimento que está sendo interpretado no mercado como uma tentativa de fusão da companhia de proteínas de Marcos Molina com sua concorrente. O Estadão/Broadcast apurou que estiveram na ponta vendedora a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, que tem uma fatia de 9,16% da dona da Sadia, e a Kapitalo Investimentos, dona de 5%, além de outros acionistas.

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A operação foi feita por meio de leilão em Bolsa e pode ter chegado ao valor de US$ 600 milhões (cerca de R$ 3,2 bilhões), com recursos diretos do caixa que a companhia tinha disponível no trimestre. Por ora, as empresas devem continuar independentes, com a compra tendo sido apenas uma oportunidade da Marfrig aumentar a sua participação.

Rumores sobre uma possível fusão entre as duas empresas de alimentos vêm movimentando o mercado desde quinta-feira com as ações da BRF tendo saltado quase 17% nesta sexta-feira, fechando cotadas a R$ 26,93. Os papéis da Marfrig tiveram queda de 5,2% no dia, para R$ 18,05.

Ações da BRF, dona da Sadia e Perdigão, saltaram mais de 16% na Bolsa hoje. Foto: Nacho Doce/Reuters

Fontes ligadas ao mercado disseram ao Estadão/Broadcast que a Marfrig se prepara para uma nova tentativa de combinação com a BRF, mas que esse movimento deve ser consolidado no longo prazo, com o BTG Pactual e o JP Morgan como mediadores financeiros. O primeiro passo dessa tática foi a compra de ações na Bolsa.

O segundo passo da estratégia seria aguardar a próxima Assembleia-Geral de Acionistas (AGE), em abril de 2022, para tentar destituir o conselho de administração, indicando nomes mais alinhados com a Marfrig, para então engatar a fusão.  Por isso, ao comprar os papéis em Bolsa, a estratégia da empresa de Molina foi mirar os fundos de pensão da Petrobrás e do Banco do Brasil, que foram contra a proposta de combinação feita em 2019 pela empresa.

Na época, as duas companhias ensaiaram uma junção, mas, 40 dias após o anúncio do acordo, declinaram a decisão por não terem conseguido chegar a um consenso sobre temas de governança corporativa, conforme comunicado divulgado na ocasião. Fontes afirmaram, na época, que acreditavam que, em algum momento, uma tentativa de parceria seria retomada – o que agora se confirmou.

“Uma participação de 10% na BRF já tornaria possível propor mudanças no comando da empresa, mas, para que isso resulte em fusão, ainda haveria um caminho”, disse uma fonte que preferiu não se identificar. Ela lembra que um movimento parecido foi conduzido pela CSN, que adquiriu há dez anos 20% da Usiminas. “A diferença é que a Usiminas tinha no controle um bloco de acionistas, e a BRF tem o controle pulverizado, eventualmente dificultando os planos”, acrescenta. Entre os sócios da dona das marcas Sadia e Perdigão está a Península, da família de Abilio Diniz.

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A Marfrig, que se fortaleceu nos últimos anos, ganha relevância no varejo brasileiro como sócia minoritária da BRF. A companhia, que tem hoje a maior parte das receitas em dólar, mostrou um forte balanço no primeiro trimestre, com lucro de R$ 279 milhões, revertendo prejuízo de mesmo período do ano passado. A empresa chegou a ser dona da Seara, mas, por dificuldades financeiras à época, repassou a marca à rival JBS.

Do ponto de vista de mercado, os negócios são vistos como complementares, uma vez que a Marfrig é mais forte em bovinos, enquanto a BRF tem atuação forte nos segmentos de suínos e de aves. 

Procurada, a BRF informou que a “companhia não recebeu comunicação oficial (sobre a fusão) e até o momento não dispõe de informação sobre participação relevante conforme prevê o artigo 12 da Instrução CVM 358/02”. A Marfrig não emitiu nenhum posicionamento. /COLABOROU FERNANDO SCHELLER

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