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Margem da soja chega a ser cinco vezes maior que a de cana

Mesmo com preços em queda, em função do aumento da oferta, rentabilidade do grão é bem maior que a da cana

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

Quando a cana-de-açúcar avançou sobre as novas fronteiras agrícolas, sobretudo de grãos, no Centro-Oeste do Brasil, entre 2003 e 2007, muitos agricultores de soja e milho da região criaram resistência à chegada dessas novas usinas sucroalcooleiras, que expandiam seus negócios com o 'boom' do consumo de etanol àquela época. Agora, com o setor mergulhado em crise, o caminho é inverso. Os plantadores de cana começam a repensar suas estratégias e colocam na ponta do lápis o que é mais rentável. "Grandes culturas agrícolas, como soja e cana, têm efeito de escala muito importante", afirmou José Vicente Ferraz, diretor da Informa Economics FNP, uma das mais tradicionais consultorias agrícolas do País. Ao decidir pela troca de cultura agrícola, além das condições climáticas da região, é preciso observar a eficiência de escala para escoar a produção. A pedido do Estado, a Informa Economics FNP fez um levantamento de custos de produção de soja e cana nas regiões onde a cana perde espaço. O estudo constatou que, mesmo com a redução dos preços, a soja leva vantagem. Em Rio Verde (GO), a margem de venda da soja é de 38,56%, considerando o custo de produção por hectare de R$ 1.961,13 e receita de R$ 3.192 No caso da cana, na mesma região, a margem de venda é de 6,47%, considerando um custo por hectare de R$ 23,918 mil e receita de R$ 25,72 mil. Em Dourados, no Mato Grosso do Sul, a soja segue igualmente rentável, com margem de venda de 32,08% e a da cana de 6,67%. Essas contas, contudo, não podem ser generalizadas para todo País, uma vez que variam de região para região. Em São Paulo, o cálculo de margem válido é o mesmo de Dourados. Na região de Monte Aprazível, noroeste do Estado de São Paulo, com pouca tradição em soja, muitos plantadores de cana estão elevando as apostas no grão por conta da crise do setor, disse Donaldo Paiola, presidente da Associação de Fornecedores de Cana da região. "Nessa região, temos importantes usinas, mas alguns grupos, como o Virgolino de Oliveira, não estão pagando os fornecedores. Os produtores de cana estão tomando gosto pela soja", disse. Procurada, o GVO informou que está em negociações com os produtores para pagar pela cana em atraso e está vendendo fazendas para levantar capital. Na região de Araçatuba, os fornecedores enfrentam o mesmo problema e estão reduzindo a área de renovação do canavial, diz Fernando Girardi, presidente da Associação dos Produtores de Araçatuba. Há atrasos de pagamentos pelas usinas do GVO e da Renuka. Procurada, a Renuka não retornou aos pedidos de entrevista.Renovação do canavial. De acordo com Plinio Nastari, da Datagro, a renovação dos canaviais tradicionalmente gira em torno de 18% a 20%. Nesta safra, a 2014/15, que se encerra neste mês, a média ficou em 15,2%. O mais baixo índice foi de 10,7% no ciclo 2009/10, quando a crise estava mais aguda.

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