Até os bicos da produção cultural, no entanto, diminuíram. A queda no volume de eventos, como shows e apresentações de teatro, fez o ganho de Andy com os trabalhos informais cair pela metade - de cerca de R$ 3 mil para R$ 1,5 mil por mês. A redução brusca forçou Andy a mudar seu padrão de vida. A produtora trancou a graduação em Marketing em uma universidade particular, deixou de frequentar rodízios de sushi e cinemas nos finais de semana e passou a encher o tanque do carro apenas uma vez por mês. "Nunca senti uma crise assim antes. Tive que me agarrar no mercado informal", diz.
A demissão de uma escola particular em São Paulo também obrigou a pedagoga Cristiane Alves da Silva a refazer seus planos. A professora deixou o quadro negro para trabalhar como manicure, no pequeno salão de beleza de sua mãe, cabeleireira. No primeiro semestre, sua renda caiu de R$ 2 mil para R$ 1 mil ao mês, e a rotina ficou mais pesada. "Na escola, meu dia terminava às 17 horas. Agora, no salão, vou embora às 20 horas, e ainda trabalho em feriados", conta.
A mudança também transformou a vida de suas filhas, Isabelle, de 15 anos, e Hyanne, de 13. As meninas, que ganhavam bolsa integral na escola em que a mãe trabalhava, agora estudam em uma pública. "O aprendizado é zero, porque elas estão revendo conteúdos que já aprenderam", reclama. A família também se mudou de um apartamento alugado para a casa da mãe de Cristiane.