Após passar boa parte do pregão desta sexta-feira, 5, acompanhando o desempenho do Ibovespa, que registrou recorde de valorização, as ações da Embraer inverteram o sentido e fecharam em queda de 5,28%, na mínima do dia.
A mudança no humor dos investidores foi causada pela notícia, publicada pelo jornal Wall Street Journal, de que a americana Boeing estaria disposta a pagar US$ 28 por American Depositary Receipt (ADR) para adquirir participação na companhia brasileira. Os operadores consideraram o valor baixo.
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Os ADRs são recibos de ações de empresas de fora dos Estados Unidos negociados na Bolsa de Nova York. Cada um deles é composto por quatro ações ordinárias (sem direito a voto) da fabricante de aviões.
Segundo um operador do mercado brasileiro ouvido pelo Estadão/Broadcast, o valor de US$ 28 por ADR não inclui prêmio estratégico para a aquisição. Na última semana de dezembro, quando a negociação foi revelada, o BTG Pactual considerava que o prêmio oferecido pela Boeing poderia chegar a 50%, em um negócio que tinha potencial para atingir cerca de US$ 15 bilhões.
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Segundo o jornal americano, além de acordar sobre os termos do preço, a Boeing está em tratativas com a Embraer e com as autoridades do Brasil para tentar reverter as preocupações do governo do País sobre o negócio.
As resistências se concentram principalmente sobre a área de defesa da Embraer (responsável pelas aeronaves do Exército brasileiro) e, por isso, informaram as fontes, a Boeing estaria disposta a tomar medidas para proteger marca, gestão e empregos da Embraer, além de sigilos de informação.
O governo brasileiro detém uma ação especial (chamada de golden share) da Embraer desde a privatização da companhia, em 1994. Essa ação lhe dá direito de veto em decisões importantes, como a criação de programas militares e a transferência do controle acionário.
Por meio desse mecanismo, as autoridades do País têm poder de veto sobre qualquer operação que transfira o controle da Embraer.
Nove meses. Ainda é incerto se as companhias e o governo brasileiro encontrarão um acordo mutuamente aceitável - o presidente Michel Temer já afirmou que não abrirá mão do controle -, mas, se o negócio for fechado, provavelmente demoraria entre nove meses e um ano para ser concluído, disse uma das fontes ao jornal americano.
Para a Boeing, a compra aumentaria sua exposição ao mercado de jatos de negócios, que tem sido pressionado por uma desaceleração nas vendas desde a crise financeira. Do lado da brasileira, uma das vantagens seria a possibilidade de ter todos os seus modelos de aeronave comercializados pela empresa americana, que tem uma força de vendas maior.
Hoje, as duas empresas têm uma parceria para a venda do KC-390, aeronave de transporte militar desenvolvida pela Embraer. As fabricantes não concorrem diretamente, pois a brasileira tem tradição no mercado de jatos menores, com até 150 lugares, e a americana trabalha com aeronaves com mais de 160 assentos.
Procuradas, as empresas informaram que não comentam as negociações. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS