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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Mercados globais temem sangria nas reservas da China

Em janeiro, país asiático perdeu US$ 99,4 bilhões de suas reservas; desde junho de 2014, perda chega a US$ 770 bilhões

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Temor é que país adote drástico controle de capital Foto: CARLOS BARRIA | REUTERS

A China retorna do feriado do Ano Novo Lunar como o maior risco para a estabilidade dos mercados mundiais em 2016, dada a incerteza sobre as medidas de política econômica que as autoridades chinesas vão adotar para resolver a acelerada perda de reservas internacionais, a pressão para a desvalorização da sua moeda e a adoção de estímulos para impedir uma contração maior do seu Produto Interno Bruto (PIB).

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O temor dos investidores é que, dada a falta de visibilidade sobre o que o governo chinês quer fazer, a saída de recursos privado para o exterior se acelere a tal ponto que possa forçar a uma adoção de medidas que resultem num drástico controle de capital ou numa maxidesvalorização entre 15% a 25% do yuan frente ao dólar, via abandono da política atual de intervenção cambial e até a abertura da conta de capital.

“O ruído na condução da política econômica é o ponto mais crítico da China”, diz Fabiana D’Atri, economista do Bradesco e diretora de economia do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). “Os sinais confusos dados pelo governo chinês aceleraram a saída de capital. É uma saída de medo e de aumento do risco, pois não se sabe para onde vai a economia chinesa e qual será a depreciação da moeda.”

Os dados das reservas internacionais divulgados durante o fim de semana passado acenderam o sinal amarelo dos investidores. Em janeiro, as reservas chinesas recuaram US$ 99,469 bilhões em relação a dezembro, para US$ 3,231 trilhões. Essa perda foi menor do que o consenso do mercado para janeiro, de US$ 120 bilhões, mas ainda assim num ritmo assustador, pois foi a segunda maior perda mensal de reservas internacionais.

Nos cálculos dos economistas do Deutsche Bank, por exemplo, se o ritmo atual de saída de capital prosseguir, as reservas cambiais da China vão chegar ao fim de 2016 equivalendo a apenas 15% do PIB do País, em comparação com o nível atual, de 30%. Muitos economistas acreditam que o patamar de US$ 3,231 trilhões já estaria próximo do que seria o nível adequado e seguro. Desde que atingiu seu pico em junho de 2014, a China já perdeu cerca de US$ 770 bilhões das reservas, ou seja, o equivalente a duas vezes o tamanho da poupança cambial do Brasil atualmente.

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“O PBoC (sigla em inglês para o Banco Central da China) encontra-se entre o purgatório e o inferno, tendo de escolher entre uma erosão gradual das suas reservas cambiais e um rápido ajuste da sua moeda que pode ser desestabilizador para a China e que pode afundar os mercados globais de câmbio numa turbulência”, diz Rajiv Biswas, economista-chefe para Ásia-Pacífico da consultoria IHS Global Insight.

Segundo ele, uma desvalorização mais forte do yuan permanece como o principal risco negativo para a perspectiva econômica mundial em 2016. “Uma forte desvalorização do yuan pode causar choque ao mercado de dívida corporativa da China, uma vez que os tomadores não financeiros detêm uma grande quantia de dívida em dólar, estimada em US$ 1,2 trilhão em meados de 2015”, diz Biswas.

Dilema. “Quer seja US$ 120 bilhões, como o mercado esperava, ou quase US$ 100 bilhões, como divulgado, a velocidade com que o PBoC perdeu de novo suas reservas cambiais em janeiro foi bem impressionante, ou de botar medo”, diz Ulrich Leuchtmann, analista do banco alemão Commerzbank.

Para ele, só há duas opções para o PBoC estancar as perdas de reservas: parar a fuga de capital ou aumentar os superávits comerciais. Segundo Leuchtmann, a primeira opção só é possível se a expectativa de depreciação do yuan desaparecer. “A expectativa de ganhos cambiais tem levado os chineses a investir mais no exterior ao mesmo tempo em que a expectativa de perdas cambiais tem desestimulado os estrangeiros de aplicar seus recursos na China”, diz. Já a segunda opção de aumentar os superávits comerciais, segundo Leuchtmann, só acontecerá com a desvalorização cambial.

“Um número maior de analistas já acredita que uma desvalorização de grande magnitude da moeda chinesa é a melhor e única saída para resolver esse dilema, mas não tenho certeza se o PBoC terá a coragem suficiente para fazer isso”, diz Leuchtmann. Por enquanto, o cenário base de vários analistas ainda é de uma depreciação gradual e ordenada da moeda chinesa.

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Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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