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Ministério da Agricultura paralisa exportações de frango de três unidades da BRF

Uma delas, em Mineiros (GO), já havia sido interditada há um ano; plantas de Rio Verde (GO) e Carambeí (PR) também foram obstruídas

Por Camila Turtelli , Karin Sato e Nayara Figueiredo
Atualização:

O Ministério da Agricultura suspendeu as atividades de três unidades da BRF nesta segunda-feira, 5, após a deflagração da 3ª fase da Operação Carne Fraca, intitulada Trapaça. As plantas de Rio Verde (GO), Curitiba (PR) e Mineiros (GO) foram interditadas e suas exportações de carne de frango foram paralisadas preventivamente. A partir de agora, elas estão proibidas de realizar envios para os 12 países que têm o nível de exigência maior sobre a presença de salmonela.

Com a ajuda de documentos obtidos por meio de uma ação trabalhista, investigadores da Polícia Federaldenunciaram que a BRF adulterava resultados de análises relativas à presença de salmonela em seus produtos. Foto: www.alvinmarkbuen.com | DIV

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Em março do ano passado, a produção da cidade de Mineiros (GO) já havia sido embargada durante a mesma operação. O clima era de desespero entre os produtores de peru e frango do município, que abastecem o complexo frigorífico da BRF Perdigão. As granjas da região chegaram a acumular um total de 300 mil perus em situação de abate por conta do fechamento.

O caso. Nesta segunda-feira, 5, com a ajuda de documentos obtidos por meio de uma ação trabalhista, investigadores da Polícia Federal (PF) denunciaram que a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, adulterava resultados de análises relativas à presença de salmonela em seus produtos.

O objetivo era burlar a fiscalização sanitária e continuar exportando para destinos que têm uma tolerância menor à presença da bactéria na proteína, afirmaram delegados e representantes do Ministério da Agricultura, durante coletiva sobre a 3ª fase da Operação Carne Fraca.

A salmonela, comum em carnes, é permitida para comercialização até determinados níveis e não é necessariamente é nociva à saúde se a carne for cozida adequadamente. Porém, 12 importadores têm uma exigência mais elevada em relação à presença da bactéria. Estes mercados colocam isso como requisito de restrição para a compra do produto e podem devolver os lotes, caso o nível não seja atendido. Entre os destinos, estão a União Europeia, China, Coreia do Sul, Arábia Saudita, Rússia e África do Sul.

Ação trabalhista. Parte das provas levantadas pela PF veio de uma ação trabalhista de uma ex-funcionária da BRF e também da troca de e-mails dos executivos da empresa. O delegado da PF, Maurício Moscardi Grillo, disse que a empresa alterava tabelas dos resultados antes de entregar ao Ministério da Agricultura. Ainda de acordo com ele, posteriormente, foram encontrados indícios de continuidade das irregularidades. "A fraude vinha sendo perpetuada", disse.

++ Ações da BRF despencam após PF deflagrar a terceira fase da Operação Carne Fraca

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Ele afirmou que uma ex-funcionária, ao sair da empresa, ajuizou uma ação trabalhista, que serviu de prova para a investigação. "Ela guardava boa parte do que tinha de fazer de errado", observou.

Grillo reforçou que os executivos da BRF tinha conhecimento das fraudes que começavam nas granjas dos cooperados, passavam pelos frigoríficos e chegavam até os laboratórios.

O coordenador geral do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Ministério da Agricultura, Alexandre Campos, afirmou que, em 2017, 12 países enviaram 410 notificações ao Brasil sobre a presença de salmonela em produtos importados do País.

++ Cinco frigoríficos já foram interditados

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A investigação é uma continuação da ação deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março de 2017 que investigou esquemas de corrupção relacionando frigoríficos e a fiscalização agropecuária. Na época, 21 plantas perderam a permissão para exportar e mais de 70 destinos bloquearam as exportações do Brasil. Apenas uma semana após a deflagração da operação, o setor de carnes calculou perdas de cerca de US$ 130 milhões.

"Devemos receber novos questionamentos de importadores e o Ministério (Agricultura) está pronto para responder", garantiu Campos. 

Outro lado. Em nota divulgada nesta segunda, a BRF não trata da decisão do governo de suspender as exportações de três de suas unidades. Na nota, a empresa afirma que segue normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos. "Com base nos documentos disponíveis, a BRF entende que nenhuma das frentes de investigação da Polícia Federal diz respeito a algo que possa causar dano à saúde pública", ressalta.

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Em relação às denúncias até então divulgadas, a empresa diz que sobre salmonela do tipo Pullorum, citada pela PF em relação à produção em Carambeí (PR), "é essencialmente de aves e não causa nenhum dano à saúde humana". A empresa diz ainda que segue todos os monitoramentos estabelecidos pelo Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) e Instrução Normativa nº 20.

Sobre o lote de 46 mil pintos de um dia citado na acusação, a companhia diz que foram realizadas análises microbiológicas que não identificaram presença da bactéria S.Pullorum. Porém, ela foi identificada em matrizes e lotes de frango de corte no mesmo período em Carambeí. "Os resultados dessas análises foram devidamente notificados ao Serviço Veterinário Estadual e ao Serviço de Inspeção Federal, como determina a legislação", afirma. A empresa diz ainda que o ofício foi encaminhado no dia 18 de abril de 2016 ao Serviço Estadual. "Outros 28 ofícios relacionados ao assunto foram encaminhados ao Serviço Federal", afirma.

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