PUBLICIDADE

Montadoras demitem 1.846 em fevereiro

Indústria automobilística emprega 142,3 mil pessoas no País, o menor contingente desde maio de 2011; estoque é de 329 mil veículos

Por
Atualização:

Com produção em queda acentuada e estoques em níveis similares aos do final de 2008, no auge da crise financeira internacional, a indústria automobilística demitiu em fevereiro 1.846 trabalhadores. Nos dois primeiros meses do ano, já foram eliminadas 2,2 mil vagas. O setor emprega atualmente 142,3 mil pessoas, o menor contingente desde maio de 2011. Apesar dos cortes e das várias medidas de redução da produção, como férias coletivas, folgas e lay-off (suspensão dos contratos de trabalho), fábricas e revendas têm atualmente 329 mil veículos em estoque, suficientes para 50 dias de vendas. A última vez que dados semelhantes foram registrados foi em novembro de 2008. O setor considera normal estoques para 25 a 30 dias. A produção de veículos caiu 2,3% em fevereiro na comparação com janeiro e 28,9% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram fabricadas 200,1 mil unidades, o mais baixo volume desde fevereiro de 2009, segundo dados divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Nos dois primeiros meses do ano, já foram eliminadas 2,2 mil vagas. O setor emprega atualmente 142,3 mil pessoas, o menor contingente desde maio de 2011. Foto: Marcos de Paula/Estadão

No bimestre, a produção teve queda de 22% na comparação com igual período de 2014. "O resultado é reflexo do desempenho do mercado interno (que caiu 23,1% no período) e das exportações (com redução de 7,2%)", justifica o presidente da Anfavea, Luiz Moan. O executivo credita o atual cenário a fatores como perda da confiança dos consumidores, medidas de ajuste econômico, efeitos da alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em janeiro, crédito escasso e mais caro, além do menor número de dias úteis em fevereiro, por causa do carnaval. Com esse desempenho fraco no primeiro bimestre, no próximo mês a Anfavea vai refazer suas previsões para 2015. As apostas no início do ano eram de estagnação nas vendas e alta de 4% na produção e de 1% nas exportações. Segundo Moan, os novos números trarão significativa queda em todos os itens. "Março vai ser um mês crítico para avaliar qual vai ser a nova tendência do mercado. Ao ritmo atual, as vendas não superariam os 3 milhões de unidades", diz Jaime Ardila, presidente da General Motors América do Sul, indicando que a queda poderia ficar próxima de 14%. Nesta semana, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) reviu sua projeção de queda de 0,5% para 10% neste ano. Excedente. Apesar do corte de empregos, Moan diz que as montadoras têm feito grande esforço para preservar postos. Na próxima segunda-feira, por exemplo, a Fiat dará férias coletivas a 2 mil trabalhadores da fábrica de Betim (MG) por 20 dias e a GM iniciará novo programa de lay-off para 473 trabalhadores de São José dos Campos, segundo o sindicato dos metalúrgicos local. A empresa chegou a falar em dispensa de 650 a 800 trabalhadores. Moan admite, contudo, que as empresas "têm um excedente de pessoal bastante forte". Ele lembra que, em fevereiro de 2009 - ano em que foram produzidos 3,1 milhões de veículos -, as montadoras empregavam 124 mil pessoas. Hoje, são 18 mil a mais. "Não quer dizer que todos sejam excedentes, pois há contratações nas novas fábricas e nas empresas que aumentaram capacidade", afirma Moan. Ele ressalta ainda que a mão de obra das montadoras é altamente qualificada "e a última coisa que desejamos é perder esse pessoal". Segundo Moan, a Anfavea e outras entidades, incluindo centrais sindicais, continuam discutindo com o governo a proposta do Programa Nacional de Proteção ao Emprego, que seria uma substituição ao lay-off a ser adotado em tempos de crise. Governo e empresas bancariam os salários dos trabalhadores em vez de acionar o seguro-desemprego. México. A Anfavea espera para os próximos dias um entendimento entre os governos do Brasil e do México para o acordo automotivo entre os dois países que vence em março. A entidade defende a manutenção do regime de cotas, enquanto o México insiste no livre-comércio. Segundo a Anfavea, a cota de exportações do período de março de 2013 a março de 2014, de US$ 1,64 bilhão, foi integralmente utilizada pelo México. Já o Brasil exportou de 75% a 80% da cota, em razão da baixa competitividade de seus produtos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.