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Na China, chip vira prioridade de Estado

Dominação de fabricantes como Intel e Samsung incomoda governo do país

Por Diogo Ferreira Gomes e PEQUIM
Atualização:

A China é, desde 2005, o maior mercado mundial de chips. No ano passado, desbancou os Estados Unidos como a maior produtora de semicondutores. Mas as fabricantes genuinamente chinesas não têm o que comemorar. Os estrangeiros que fabricam no país ganham cada vez mais mercado. O governo chinês já abriu os olhos para essa defasagem e recentemente alertou as marcas nacionais sobre a necessidade de melhorar em vários aspectos, como a qualidade dos produtos. Enquanto o país tem empresas liderando em categorias importantes como PCs (Lenovo) e infraestrutura de telecomunicações (Huawei e ZTE), a China come poeira na área de chips. Em 2012, companhias estrangeiras responderam por 58% da produção chinesa de circuitos integrados, com a liderança da americana Intel, que sozinha abocanhou US$ 2,3 bilhões dos US$ 8,9 bilhões em vendas. Até 2017, terão 70% do mercado chinês de chips, prevê a consultoria americana IC Insights.No ano que vem, a Samsung vai inaugurar uma planta na cidade de Xian para fabricar 100 mil chips por mês. O investimento, de US$ 7 bilhões, é o maior que a companhia já fez em circuitos integrados fora da Coreia do Sul.A China conta com 40 fábricas ativas de circuitos integrados de um total de 708 no mundo, segundo a Semi, organização de empresas do setor com sede nos Estados Unidos. No fim de setembro, o vice-primeiro-ministro da China, Ma Kai, visitou várias companhias nacionais de tecnologia e adotou um discurso padrão: elas precisam se esforçar para oferecer produtos inovadores e ter um modelo comercial mais eficiente para dar impulso à indústria nacional de chips.Detentor de quatro patentes nos Estados Unidos, o especialista em semicondutores Peter Normington vê uma inferioridade drástica na qualidade dos chips 100% chineses, mas diz que essa defasagem não é necessariamente resultado da incompetência dos fabricantes locais."É difícil, ou até mesmo impossível em alguns casos, que fabricantes chineses de chips tenham acesso a equipamentos de ponta por causa das barreiras de exportação que os Estados Unidos e outros países impõem", explica.Normington lembra também a dificuldade que é proteger uma patente na China. "Companhias estrangeiras são relutantes em permitir que chineses fabriquem produtos considerados propriedades intelectuais de suma importância".No ano passado, a Nvidia perdeu uma encomenda de 10 milhões de unidades de processamento gráfico (GPUs, uma espécie de processador), avaliada em até US$ 500 milhões, para o governo chinês, porque preferiu não revelar o código fonte do driver, em Linux. Isso seria necessário porque os processadores chineses Loongson usam arquitetura MIPS, que a Nvidia não comporta. A também americana AMD acabou assumindo o pedido.A preferência pelos circuitos internos de estrangeiros é tamanha que até companhias da própria China deixam o patriotismo de lado na hora das encomendas. "Em smartphones, por exemplo, usamos nosso próprio processador ou então de companhias como (as americanas) Qualcomm e Broadcom", explica um funcionário da Huawei, líder nacional do setor.Qual seria, então, a saída para a indústria chinesa de chips? Ron Maltiel tem uma consultoria na Califórnia sobre semicondutores e diz que a China poderia se focar na concepção e não necessariamente em fabricar chips, cujas plantas são notavelmente caras. "Dependeria mais de ter engenheiros com experiência em design de chips. O governo quer que as companhias cresçam nesta área (de chips) porque é uma indústria de alto valor agregado e com potencial de grandes receitas e crescimento, além de ser base para o setor de eletrônica e computação", afirma Maltiel.Segundo números da consultoria IC Insights, Maltiel tem razão. O mercado de chips da China movimentou US$ 81 bilhões no ano passado, enquanto as fabricantes locais venderam somente US$ 8,9 bilhões. Até 2017, no atual ritmo, essas marcas teriam um crescimento ínfimo e responderiam por US$ 20 bilhões de vendas de um total de US$ 129 bilhões.

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