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Na contramão da Selic, bancos elevam taxas para consumidores e empresas

Instituições falam em risco maior para justificar juros altos; concessão de financiamento cresceu

Foto do author Lorenna Rodrigues
Por Fernando Nakagawa e Lorenna Rodrigues (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - A despeito da contínua queda do juro básico da economia (Selic) desde outubro de 2016, bancos voltaram a elevar o custo dos empréstimos para consumidores e empresas. Em outubro, esse aumento aconteceu especialmente no rotativo do cartão de crédito da categoria chamada “não regular” – quando o cliente não paga a parcela mínima ou atrasa. Para esse usuário, o juro do cartão está em 413,8% ao ano. Não é o maior patamar; há dois anos os juros do cartão ultrapassaram 700%. Mesmo caro, o crédito continua em expansão e o volume de novas operações cresceu 6,1% ante setembro.

Copom corta taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual; mercado espera nova redução em fevereiro, para 6,75% ao ano Foto: André Dusek/Estadão

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A taxa média de juros cobrada das pessoas físicas no mês passado subiu 0,3 ponto, para 59,5% ao ano. Para as empresas, a alta foi de 0,1 ponto, para 23,3%. Essa elevação vai na contramão do movimento feito pelo Banco Central, que, no fim do mês, cortou a Selic pela nona vez consecutiva, para 7,5% ao ano. O juro básico chegou a 14,25% antes de iniciado o ciclo de cortes.

No cartão de crédito na modalidade rotativo não regular a taxa saltou 14,4 pontos em um único mês. Sozinho, esse movimento elevou o juro médio ao consumidor em 0,4 ponto porcentual.

O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, explica esse salto como um ajuste após mudança na metodologia do indicador em setembro, o que levou a uma queda de mais de 100 pontos porcentuais no juro cobrado no rotativo não regular naquele mês. Agora, diz, há a reversão de parte desse movimento, como um ajuste dos bancos.

Outras operações tiveram aumento de juro. O preço para usar o limite do cheque especial subiu 2,4 pontos, para 323,7% ao ano. No crédito pessoal, a taxa média cresceu 0,6 ponto, para 49,1%.

No caso do cheque especial, Rocha explica que cresceu o número de novos clientes, o que mudou o perfil dos devedores e fez subir o risco. Por isso, diz, bancos elevaram o juro. Segundo ele, as instituições financeiras também mencionaram “questão de risco” para explicar a taxa maior no crédito pessoal.

Os dados do BC fornecem uma explicação adicional: atrasos nos pagamentos. O dado de inadimplência (falta de pagamento por mais de 90 dias) permaneceu estacionado, mas a parcela das operações com atraso entre 15 e 89 dias cresceu. No rotativo do cartão, por exemplo, 13,6% das operações tinham atraso de até 89 dias em setembro. No mês passado, a parcela cresceu para 14,5%. O mesmo movimento foi registrado no crédito pessoal e financiamento de veículos.

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Outubro também mostrou continuidade da tendência de aumento da concessão de novos financiamentos. As novas operações para consumidores cresceram 8,3% ante setembro e os bancos emprestaram R$ 165 bilhões às famílias no mês. Para empresas, o volume aumentou 3,2%, para R$ 121,5 bilhões.

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