“É difícil enfrentar essa fila todos os dias, sair de casa de madrugada, com o estômago quase vazio e, no fundo, imaginando que o esforço vai ser em vão. Mas tento não desanimar. Desde que perdi meu emprego, como carpinteiro, depois que as obras na refinaria de Abreu e Lima terminaram, tudo ficou muito difícil em casa. Até o bicos sumiram, ninguém quer gastar com o que não é de primeira necessidade. Sou experiente, nunca chegava atrasado e nem tinha reclamação do patrão, mas nessa fila, todas as qualidades da gente viram poeira. São muitas pessoas qualificadas, a maioria jovem e com vontade de trabalhar, mas que já não conseguem mais ter o mínimo de esperança.
Eu me mudei do Recife para mais perto de Suape há cerca de cinco anos, mas já estou desempregado há três. Acho que as coisas vão melhorar, mas é difícil entender como quem é mais pobre e está procurando emprego só recebe porta na cara, enquanto a política não dá trégua com todo o festival de roubalheiras.
Pela primeira vez, acabei decidindo trazer os meus filhos mais velhos para tirar a carteira de trabalho. Quem sabe eles não têm mais sorte?” / Douglas Gavras