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‘Não queremos que a Grécia seja uma colônia’, diz grego em manifestação

Em comemoração na praça Syntagma, no centro de Atenas, população diz que qualquer mudança representará avanço para o povo da Grécia

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

ATENAS - Nunca um “não” foi tão celebrado em praça pública. Toda a área em frente ao parlamento grego, no centro de Atenas, foi tomada pela multidão que se reuniu em vários pontos da cidade e convergiu no local que concentrou todos os movimentos populares da curta campanha para o referendo, anunciado e realizado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras em menos de dez dias.

 

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Milhares de pessoas mostraram que a posição dos cidadãos gregos em relação ao pacote de austeridade implantado pela União Europeia nos últimos cinco anos é clara. O que as urnas falaram, os manifestantes na praça Syntagma gritaram: basta.

 

Em uma celebração tranquila, em que famílias circulavam em meio a um público formado majoritariamente por jovens, ficou claro que a maior parte da população grega quer modificar radicalmente o curso que o país tomou nos últimos cinco anos. Médico na ilha de Creta, Athanasios Asimakapoulos, 29 anos, veio a Atenas só para votar. E resumiu a sensação de ver o “não” vencer: “Não queremos que a Grécia seja uma colônia do resto da Europa.”

Os amigos Iordanis Seferiadis e Giannis Kaloumenos na comemoracao na praça Syntagma Foto: Fernando Scheller/Estadão

 

Ao lado do irmão Yiannis, 31 anos, também médico, Athanasios lembrou que, desde 2010, a Grécia não negociou o pacote de ajuda. Apenas aceitou o dinheiro de que precisava sem parar para pensar nas consequências para a população. E, segundo ele, elas foram muitas: alta do desemprego, redução das pensões, privatizações com retornos ruins e sucateamento do setor agrícola e extrativista.

 

Ao contrário do que pensa muita gente que votou no “não”, o médico admite que existe um risco de que a escolha feita pelo povo grego hoje possa venha a deixar a zona do euro e perder o “cobertor de segurança” representado pela UE – justamente o medo dos quase 40% de gregos que votaram “sim” no referendo.

 

No entanto, o médico diz que chegou um momento que não sobrou muito a perder. “Durante muito tempo, os políticos simplesmente não tentaram um acordo melhor. Hoje, as pessoas tomaram em suas mãos a responsabilidade de decidir. E, embora a gente não saiba ao certo o que vai acontecer, sabemos que não podemos continuar do jeito que estamos.”

 

Crise. O cantor de ópera Antonis Sigalas, 45 anos, foi diretamente afetado pela crise dos últimos cinco anos. “Desde que voltei para a Grécia, há sete anos, minha situação só piorou”, diz ele, que estudou e trabalhou em países como Inglaterra, Alemanha e Áustria. Sigalas ressalta, no entanto, que voltar a trabalhar no exterior não está entre seus planos. “Eu quero a mudança porque quero escolher viver ou não no exterior. Hoje, estamos sendo obrigados a isso.”

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O irmão do gerente comercial Iordanis Seferiadis, 37 anos, resolveu deixar o país justamente por não encontrar emprego aqui. “Os últimos cinco  nos foram muito ruins, ao ponto que os gregos não têm mais medo. Hoje, nós sabemos que podemos escolher tentar uma vida melhor.”

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