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Economia e outras histórias

Nem exagero, nem fuga de capitais

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Depois que a cotação do dólar furou a barreira dos R$ 4, na sessão desta terça-feira, analistas de conjuntura e operadores de câmbio concentraram a atenção na possibilidade de que estivesse em curso um episódio de “overshooting” no mercado cambial. Ou seja, uma situação de exagero na formação do preço do ativo, reflexo de algum tipo de “efeito manada”, que teria passado a empurrar as cotações ladeira acima.  Procuraram avaliar, ao mesmo tempo, se a alta das cotações refletiria algum movimento de fuga de capitais. A conclusão a que chegaram foi a de que, pelo menos por ora, não está ocorrendo nem uma coisa nem outra. Há justificativas para a taxa de câmbio mais elevada e indicações de que os fluxos cambiais, embora com tendência a reduzir volumes, mantêm-se dentro da normalidade, amparados inclusive na reversão positiva das contas externas e com ingressos expressivos de recursos. Há consenso de que eventos externos, tais como o possível início da normalização da política de juros, nos Estados Unidos, e as incertezas disseminadas pelos engasgos da economia chinesa, exercem agora papel coadjuvante na formação do preço do dólar, no mercado doméstico de câmbio. Na semana passada, de fato, quando o real se desvalorizou quase 2% ante o dólar, as moedas pares da brasileira se valorizaram.  Os elementos determinantes dos atuais movimentos no mercado cambial são, sem dúvida, de origem interna. A crise política e as dúvidas em relação ao ajuste fiscal, que alimentam as hipóteses de novas perdas do grau de investimento por outras agências de classificação de risco, estão na base da trajetória esticada do dólar. Nessas circunstâncias, a atuação do Banco Central, como raro agente com interesse na venda de moeda americana e recursos para tanto, passa a desempenhar papel-chave na tentativa de reduzir a volatilidade das cotações e assegurar normalidade às operações cambiais.

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