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'Ninguém compra carro novo todo ano'

Economista lembra que ninguém compra carro todo ano e que incentivo ao consumo não fará o País crescer acima de 2%

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Por Beatriz Bulla
Atualização:

O modelo de crescimento baseado em consumo estimulado por desonerações tributárias mostra seu limite. Essa é a avaliação do economista Gabriel Leal de Barros, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Por isso, as vendas de veículos caíram de janeiro a maio, mesmo desoneradas de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). "O governo tanto antecipou o consumo que não adianta mais prorrogar, é inócuo." A seguir, os principais trechos da entrevista: Qual sua avaliação sobre a manutenção das alíquotas de IPI? Quando as medidas de incentivos foram tomadas, em 2009, poderiam fazer sentido. Mas insistir nelas, a partir de 2012, começou a mostrar resultados mais modestos. No fundo, não funcionaram. Por quê? Porque o governo tem estimulado o consumo de bens duráveis num horizonte muito curto. São produtos com um ciclo particular de maturação. Ninguém compra carro todo ano. O efeito que a medida produz em vendas e atividade não necessariamente se mantém. A expectativa é de que essas prorrogações percam efeito? No setor de veículos, apesar da desoneração já concedida, vemos taxas negativas de vendas e produção. O governo tanto antecipou o consumo que não adianta mais prorrogar, é inócuo. Já o setor de móveis caminha próximo ao setor imobiliário, que ainda cresce, mas já mostrou moderação. O setor de móveis está no fim da curva. Qual o impacto disso nas contas do País? Esse modelo sustentado no consumo não garante crescimento acima de 1,5%, 2% ao ano, e envolve renúncia fiscal. O governo já abriu mão de 1,5% do PIB com desoneração. A piora nas contas públicas está sustentada por essa política de desonerações, algumas até bem-intencionadas, mas que, por força da maturidade dos bens de consumo, acabam não surtindo efeito. Mas não é desejável que o governo estimule o crescimento? Quando a economia cresce abaixo do nível potencial, é natural que o governo adote medidas de estímulo. O problema é a forma: perda fiscal sem reativar crescimento. O desenho das políticas está sendo mal formulado. Não está tendo o efeito esperado. A conta pode chegar aos ganhos sociais? Cedo ou tarde. Insisto: para manter taxa de desemprego baixa, renda que ainda cresce e manutenção de programas importantes sociais, é preciso retomar a agenda de crescimento.

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