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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|No Copom, é pausa e não fim

Com pausa, o próximo passo poderá ser o aperto ou a retomada do corte de juros

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Atualização:

Após a surpresa com o comunicado da última decisão do Copom, quando o Banco Central cortou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual para 6,50% e sinalizou que iria reduzir os juros mais uma vez em maio, a ata publicada ontem trouxe um ajuste fino, porém importantíssimo, na mensagem do BC: a próxima reunião do Copom não marcará o fim do atual ciclo de afrouxamento monetário, mas sim uma pausa.

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A ideia de pausa e não de fim do ciclo de corte de juros ficou mais palpável no texto da ata do que no comunicado da semana passada.

A reação imediata à ata na curva de juros foi o enfraquecimento das apostas de redução adicional da Selic para reuniões do Copom seguintes a de maio, a qual já está consolidada, diante da sinalização do BC, a previsão de corte de 0,25 ponto para 6,25%.

Após o comunicado, não somente o corte de juros em maio passou a ser precificado por esmagadora maioria, como também a aposta de outra redução da Selic no Copom marcado para junho passou a ser cogitada com mais força. Essa probabilidade era quase insignificante antes da semana passada.

Mas a ata tirou um pouco o fôlego de quem começava a projetar um corte de juros para além do Copom de maio. O BC deu a entender de que levar a Selic para 6,25% na próxima reunião é um movimento que ainda surtirá efeito sobre a inflação de 2018. Mas em junho, o Copom definitivamente só afetará a inflação e a atividade econômica de 2019, algo ainda difícil de mensurar com precisão na fotografia de hoje.

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“O Comitê passou então a debater os passos seguintes à próxima reunião, tendo em mente o horizonte relevante para a condução da política monetária àquela altura, que já estará majoritariamente concentrado no ano-calendário de 2019”, diz a ata. “Tendo em vista o cenário básico do Copom, o balanço de riscos e as defasagens e incertezas associadas ao processo de transmissão da política monetária, o Comitê concluiu que, àquela altura, deverá se mostrar apropriado interromper o processo de flexibilização monetária.”

Todavia, o mais relevante na sinalização da ata não é se o BC vai seguir ou não cortando os juros além de maio, mas que a autoridade monetária deve deixar a Selic parada por muito mais tempo do que o mercado está prevendo para poder avaliar os efeitos do atual ciclo de corte de juros sobre a atividade econômica e sobre a trajetória da inflação, especialmente para 2019.

“Dados os riscos que a economia enfrenta e a incerteza quanto às defasagens na transmissão da política monetária, o Comitê julga que pode precisar de algum tempo para avaliar a evolução da economia e sua reação aos estímulos monetários já implementados, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento”, alerta a ata para, em seguida, lembrar que a política monetária tem “flexibilidade para reagir a riscos de ambos os lados”.

Qual a importância de haver uma pausa e não um fim do ciclo?

Se o BC decretar peremptoriamente o fim do ciclo em maio, o próximo passo dado como certo pelo mercado seria o início do aperto monetário, ou seja, o mercado discutiria apenas quando e quanto os juros voltariam a subir. Com uma pausa, o próximo passo pode ser tanto o início do aperto ou a retomada do corte de juros, caso a baixa inércia inflacionária siga contaminando os índices de preços e as expectativas, resultando num risco de demora maior para convergência à meta de inflação do BC em 2019, de 4,25%.

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Se o BC decretar uma pausa, o mercado deve postergar as apostas atuais para o início da alta de juros. Na segunda-feira, a curva de juros embutia a probabilidade de uma primeira alta de juros já no último trimestre deste ano, com um aperto adicional de 2,5 pontos porcentuais em 2019. Os analistas, na pesquisa Focus, projetam a primeira alta de juros em abril de 2019.

A entrevista coletiva que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, concederá à imprensa nesta quinta-feira será crucial para deixar mais clara ou enterrar a ideia de que, após o Copom de maio, o que virá pela frente é uma pausa e não o fim.

* COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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