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No sertão baiano, o melhor dos ventos

Região de Caetité forma um corredor natural por onde passa uma corrente de vento forte e constante, considerado o melhor do mundo

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

Até cinco anos atrás, o setor elétrico só tinha olhos para o solo amarelado que forra a zona rural de Caetité, no sudoeste da Bahia. A abundância do urânio encontrado na região converteu essa parte do sertão baiano no repositório de combustível nuclear que hoje alimenta as Usinas de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro. Desde o ano 2000, o município sedia a única mina de urânio explorada na América Latina. Os ventos, no entanto, logo se fariam ouvir. E o setor elétrico passaria a olhar mais para o horizonte.

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Hoje, Caetité mais parece um grande paliteiro, com centenas de torres eólicas enfileiradas sobre as montanhas que rodeiam o município de 60 mil habitantes. São cataventos a perder de vista, e outros tantos que chegam diariamente, carregados por jamantas que cortam as estradas de acesso à região, onde não param de surgir novos parques eólicos. Não por acaso. 

É exatamente nesta região da Bahia que foi identificado o melhor vento do planeta para receber projetos eólicos. Municípios como Guanambi, Igaporã, Riacho de Santana, Licínio de Almeida, Urandi, Pindaí e Caetité formam um corredor natural por onde passa uma corrente de vento forte e constante. “Os estudos mostram que o melhor vento do mundo está no interior da Bahia. É por isso que a região tem puxado muito investimento”, diz Élbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). 

O Brasil tem hoje 7 mil megawatts (MW) de energia eólica em potência instalada e outros 10,7 mil MW em construção. Os ventos já respondem por 5% do consumo diário do País, enquanto a fonte nuclear, por exemplo, responde por apenas 1,4%. A liderança do ranking nacional é do Rio Grande do Norte, que até julho tinha 87 parques em operação, seguido por Rio Grande do Sul (50), Ceará (45) e Bahia (40). Até o ano que vem, porém, os baianos devem pular para o topo da lista, por conta do volume de empreendimentos que entrarão em operação no Estado. 

Energia eólica produzida no Brasil responde por 5% do consumo diário Foto: Dida Sampaio/Estadão

Hoje há nada menos que 170 parques eólicos em construção na Bahia, ante 90 no Rio Grande do Norte, 58 no Ceará e 41 no Rio Grande do Sul. A potência instalada total em território baiano deverá chegar a 5 mil MW. Apesar de ser um volume representativo, trata-se de uma lufada se comparado à potência total que o Atlas eólico do Estado identificou em 2013, quando foram estimados 185 mil MW de capacidade. Para se ter ideia, atualmente a capacidade de geração de energia do Brasil, somando todas as fontes disponíveis, é de 138 mil MW.

“No Brasil, o potencial eólico fica acima de 500 mil MW, considerando as tecnologias de hoje. Como a segurança energética do País tem de ser feita de diversas fontes de geração, e não apenas do vento, podemos dizer tranquilamente que o potencial eólico é infinito”, diz Élbia.

Sem crise. No ranking eólico global, o Brasil saltou da 15.ª para a 10.º posição entre 2012 e 2015, em relação à potência instalada. No ano passado, foi o quarto país que mais investiu nesses projetos, ficando atrás só da China, EUA e Alemanha. Até 2017, deverá estar entre as seis maiores potências eólicas do mundo. Apesar da crise econômica, Élbia diz que o setor tem crescido ano após ano e que a tendência é de que mais fábricas de equipamentos e empresas de serviço fortaleçam a indústria do vento. “Esse mercado emprega cerca de 40 mil pessoas, direta e indiretamente.”

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