DAVOS - Tecnologia, desigualdade e pessimismo. Esses foram, na visão do prêmio Nobel de Economia Robert Shiller, os temas que deram o clima do Fórum Econômico Mundial de Davos de 2015. "O Fórum Econômico Mundial parece interessado em 'gadgets' e coisas novas, nós falamos o tempo todo sobre internet, tecnologia, mas há na verdade uma sensação de 'malaise' trazida pelo rápido avanço da tecnologia, porque as pessoas estão preocupadas com os seus empregos e o futuro de longo prazo", disse Shiller, em conversa com a Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Segundo o economista, há uma "nova normalidade" de pessimismo, com o risco de as pessoas perderem seus empregos para máquinas. Assim, as pessoas estão preocupadas com o futuro, e tendem a poupar mais num ambiente econômico em que há poucas oportunidades de investimento. A busca por imóveis, ações e títulos eleva o preço dos ativos, e assim é possível explicar a estranha situação de taxa de juros baixíssima, crescimento fraco e mercados em alta. Ele ressalva que esse quadro descreve mais a situação americana do que a europeia ou de emergentes como o Brasil, no que tange ao valor dos ativos. Outro tema recorrente em Davos, segundo Shiller, foi a desigualdade. Ele estranhou que Thomas Piketty, o economista francês autor do best-seller O Capitalismo no Século 21, não só não tenha ido ao fórum como não tenha sido discutido. Com seu livro, Piketty relançou o debate sobre desigualdade, especialmente nos países ricos. Apesar dessa lacuna, o tema foi discutido, e Shiller também vê ligações com a questão da tecnologia: "Os benefícios de todas essas inovações tecnológicas não estão sendo repartidos, estão indo apenas para a elite rica". Sobre o programa de afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) da zona do euro, outro assunto quente de Davos, Shiller disse que "deve ajudar, mas não é uma cura milagrosa". A sua visão parece com o consenso de Davos à primeira vista, mas quando o prêmio Nobel a detalha mais, nota-se que ele é ainda mais cético. Shiller acha que a recuperação da economia americana, talvez tivesse acontecido de qualquer maneira, mesmo sem os programas de expansão de liquidez. Shiller se diz menos certo sobre a firmeza da recuperação dos EUA do que o consenso, embora não preveja uma recessão. Ele está preocupado com os elevados níveis de endividamento e com o alto preço dos ativos, o que o faz temer uma correção.