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‘Nossa visão sobre o País é muito positiva’, afirma executivo da maior gestora de recursos do mundo

Brasil representa 65% dos US$ 2,5 bilhões do patrimônio dos fundos da América Latina da BlackRock

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast) e Karla Spotorno (Broadcast)
Atualização:

O Brasil é hoje a principal aposta dos fundos de ações para América Latina da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, com US$ 5,7 trilhões de ativos sob gestão e presença em mais de 30 países. O investimento em empresas brasileiras totaliza cerca de 65% dos US$ 2,5 bilhões de patrimônio dos fundos latino-americanos da instituição. Em entrevista exclusiva ao Broadcast/Estadão, o principal gestor para a região William Landers explica que o otimismo tem a ver com o momento econômico do Brasil. “Nossa visão é positiva, porque os indicadores estão melhorando e, principalmente, a taxa de juros caiu de 14,25% para 8,25%, sendo que o Banco Central (BC) tem, claramente, espaço para cortar mais.”

William Landers, gestor da BlackRock, entende que uma melhora do cenário econômico ainda mais significativa virá com a aprovação da PEC da Previdência. Foto: JF DIORIO/AE

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O gestor entende que uma melhora do cenário econômico ainda mais significativa virá com a aprovação da PEC da Previdência, “ainda que amena”. O que pode atrapalhar a onda de otimismo é apenas a eleição de 2018. Embora o risco de um governo populista vir a se eleger “seja pequeno”, na avaliação da BlackRock, “não é negligenciável”. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Vemos grandes instituições globais com alguma cautela para aumentar exposição em Brasil. Qual é a visão da BlackRock?

A nossa visão sobre o Brasil é muito positiva. Vemos os números econômicos melhorando pouco a pouco: inflação, desemprego, vendas no varejo, inclusive o de automóveis, tráfego nas estradas. O PIB (Produto Interno Bruto) deve dar uma acelerada em 2018, refletindo a queda dos juros, os efeitos positivos das reformas, incluída a trabalhista, além da inflação baixa. A safra agrícola deve ajudar. O PIB pode crescer no mínimo 2,5%, mas 3% também é factível. Outra mudança importante é a taxa de juros, que caiu de 14,25% para 8,25%, sendo que ainda há, claramente, mais espaço para o Banco Central cortar mais.

Vocês veem a taxa básica de juros abaixo dos 7% ao ano?

No ano passado, não havia nenhum analista neste mercado com coragem de prever a taxa no nível de 7%. Vejo a Selic abaixo de 7% porque estão sendo retiradas distorções do mercado brasileiro. Um exemplo é aprovação da TLP (que substituiu a Taxa de Juros de Longo Prazo, a TJLP). Talvez o BC dê uma pausa nos cortes em 7%, mas não vejo razão nenhuma para aumento de juros em 2018 quando a inflação ainda vai estar neste patamar de 4%. Se tiver algum risco na trajetória dos juros, é para baixo. Se a reforma da Previdência for aprovada, mesmo que mais amena do que se esperava, o BC terá condições de trazer os juros para baixo.

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Mas o senhor entende que a reforma da Previdência vai ser aprovada?

A Previdência é uma das reformas mais importantes para as contas fiscais de médio prazo e reduz a pressão nas contas de curto prazo. Mas o fato é que (uma mudança desse tipo) vai ter que passar em algum momento. A gente sabe que decisões políticas mais difíceis e que não são populares acontecem em tempo de pressão alta (de crises, como a atual) em qualquer país. Passando desta última denúncia contra o presidente, que a gente espera que seja a última, o esforço do governo vai ser todo em cima da reforma da Previdência.

Quando a BlackRock passou a aumentar a exposição ao Brasil?

Desde o momento em que ficou claro que o processo de impeachment de Dilma Rousseff iria acontecer, começamos a aumentar nossas posições em março de 2016. Os meus ativos diminuíram cerca de 80% do melhor momento, quando os fundos chegaram a ter quase US$ 11 bilhões. Estamos com quase dois terços do fundo investidos em Brasil hoje. Depois, vem a Argentina, Peru, México, Colômbia e Chile.

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Na política, o Brasil tem acumulado muitas manchetes negativas com Lava Jato, aprovação quase nula do presidente da República, corrupção sistêmica. Que perguntas os estrangeiros lhe fazem sobre essa a situação no País?

Acho que tem dois tipos de investidor em termos de curiosidade sobre essa situação no Brasil. Um é o que diz “me ligue somente quando as coisas estiverem mais claras”, que talvez seja depois de outubro de 2018. Já quem está interessado no País, olha para a Bovespa em dólar e vê que continua 44,7% abaixo do pico em dólares em março de 2011. O recorde agora é em reais. Fora o brasileiro, ninguém está preocupado com o valor em reais. A dúvida é se as empresas vão conseguir resultados melhores.

Olhando a pontuação em dólares, o senhor avalia que a Bolsa brasileira está barata?

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Não diria que está barata, mas que tem potencial interessante, se as coisas continuarem como estão. Se por alguma razão, for eleito um presidente de esquerda novamente, com políticas populistas, tudo isso se reverte rapidamente. Agora, é fato que a competitividade brasileira está maior. Companhias como a Vale e a Petrobrás também estão muito mais eficientes. A tendência para a Bolsa em geral é positiva.

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O senhor vê risco de um governo populista ser eleito em 2018? A direita, representada por políticos como Jair Bolsonaro, também não tende a optar por uma condução populista?

Nunca estive com o Bolsonaro. Espero encontrar com ele esta semana (em Nova York). Pelo que entendo, ele é de extrema direita, e extrema direita não dá dinheiro para ninguém. Não há um risco de que ele comece a escrever um cheque de “bolsa”para tudo. O risco é querer fechar mais o Brasil. Extrema esquerda é populismo sem ter controle fiscal e o de direita teria controle fiscal importante.

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