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Novas fontes de energia tiram poder do cartel do petróleo

A maior parte da nova produção de petróleo mundial nos últimos cinco anos ocorreu fora dos países da organização

Por JEANNIE e KERVER
Atualização:

A Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou oficialmente na terça-feira que o boom do xisto betuminoso americano está atingindo o mundo.

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Isso em parte já é tangível, uma vez que o petróleo - que antes era importado pelos Estados Unidos - está hoje sendo enviado para outras partes e a crescente produção americana pode contrabalançar as perturbações no Oriente Médio.

Rompendo de modo marcante com o passado, esse novo informe da agência indica que a maior parte da nova produção de petróleo mundial nos últimos cinco anos ocorreu fora dos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Só no ano passado o aumento da oferta se dividiu entre países da Opep e dos países não integrantes da organização.

Mas a mudança também é psicológica.

"Ela reforça o afastamento do sentimento de escassez", disse Jim Burkhard, vice-presidente e chefe de pesquisa de mercados petrolíferos, cenários na área energética e serviços integrados na empresa IHS CERA. "Em 2008, prevalecia a percepção de que ficaríamos sem petróleo. O renascimento da produção de petróleo nos Estados Unidos alterou esse sentimento e hoje a percepção é de uma oferta mais ampla".

Avanços tecnológicos nos últimos anos ajudaram a aumentar a produção de gás natural e petróleo leve em formações antes consideradas inacessíveis, e do petróleo bruto produzido de areias betuminosas canadenses.

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Com sede em Paris e criada em resposta às crises do petróleo na década de 70, a AIE monitora os mercados energéticos e realiza estudos de mercado periódicos.

No informe publicado na terça-feira, a AIE afirma que "ondas de choque" provocadas pela produção de gás de xisto e petróleo leve nos Estados Unidos e de petróleo das areias betuminosas no Canadá foram sentidas em todo o mercado global de petróleo. E seu impacto foi agravado pelas revoltas políticas e sociais da Primavera Árabe, no sentido de mudar a maneira como o petróleo é produzido, comercializado e consumido em todo mundo.

"Eles poderiam simplesmente divulgar o título do seu relatório: 'O continente privilegiado, América do Norte'", brincou Tom Kloza, analista da Oil Price Information Service.

Constatação. Sob alguns aspectos, o estudo reflete o que analistas e outros estudiosos já vinham afirmando há mais de um ano, ou seja, que a crescente produção de xisto nos Estados Unidos não só ajudou a reduzir as importações americanas de petróleo estrangeiro, mas também impulsionou a economia, especialmente em Estados onde as perfurações são mais ativas.

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Mas para quem acha que vamos retornar aos dias da gasolina a US$ 1,25 o galão, ou mesmo US$ 2,50, melhor pensar novamente. "O mercado global vai dominar em termos de preço", disse Gürcan Gülen, economista sênior e chefe do Bureau of Economic Geology na Universidade do Texas.

E o mercado global é impelido pela demanda de economias emergentes como China, Índia e outros países, acrescentou Gülen.

As refinarias americanas prosperaram no ano passado, substituindo o petróleo importado pelo doméstico, mais barato, especialmente o que vem de Bakken Shale, em Dakota do Norte e de Eagle Ford, no Sul do Texas, como também do Canadá. Para Güllen a tendência deve continuar enquanto o petróleo cru produzido na América do Norte corresponder às exigências das refinarias. "No momento os preços do petróleo doméstico são um pouco menores do que os internacionais. O que significa que o petróleo produzido internamente pode ser competitivo. Mas as refinarias ainda precisam decidir se ele é mais adequado à sua tecnologia."

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"Tudo isso não é nenhuma novidade, pois já era comentado nos Estados Unidos e no mundo todo", afirmou Joseph A. Stanislaw, conselheiro da Delloite. Mas o novo relatório é "o reconhecimento global por uma das mais importantes instituições globais", disse ele. "De um certo ponto de vista é realmente algo importante. E terá impacto sobre as tomadas de decisão de governos em todo o mundo."

A agência não tem poder para estabelecer limites de produção, mas segundo Stanislaw, líderes governamentais com frequência recorrem à agência para adotar decisões em assuntos considerados chave. A agência representa 28 países membros fora da Opep, incluindo os Estados Unidos.

A instituição prevê que os países-membros da Opep aumentarão a produção do petróleo bruto em 1,75 milhão de barris por dia em 2018, ao passo que os países não membros da Opep deverão aumentar a produção em 6 milhões de barris ao dia.

Mas a diretora executiva da AIE, Maria van der Hoeven, nas observações oferecidas com o relatório, afirma que a Opep permanece um elemento importante no fornecimento de petróleo no mundo. "O petróleo da Opep continuará muito necessário. Essa nova fonte de oferta não implica o fim daquela organização".

Mas para Jim Burkhard será um período difícil que as antigas gigantes da produção de petróleo deverão enfrentar. "A Opep poderá deparar com uma situação em que todo o crescimento da demanda seria suprida por países não membros da organização e pelo Iraque", afirmou.

Países não membros da Opep seriam Estados Unidos, Canadá e Brasil. O Iraque é membro da organização. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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