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O abismo industrial

Os gélidos números do IBGE para a produção manufatureira por si só revelam o que está por trás do quadro dramático de 2015. A grande queda do setor teve a liderança de bens de capital e bens duráveis, que recuaram a taxas próximas ou superiores a 20%.

Por Júlio Gomes de Almeida
Atualização:

Não é por acaso. Como os impasses vividos pelo Brasil são, sobretudo, desdobramentos de uma crise de confiança que brota da economia, mas também de um sistema político-parlamentar que se desintegrou, não haveria como evitar que a aquisição de bens que nos ligam ao futuro sofresse a ruptura revelada pelos números. Estes, na verdade, nada mais são do que uma medida ou um termômetro da desconfiança que tomou conta do País.

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Outros setores são também afetados pelos mesmos motivos? Certamente que sim, mas muito longe da indústria, pois os bens por ela produzidos é que mais propriamente relacionam o presente com o futuro. Como o que está por vir é visto por empresários e mercado financeiro como algo impossível de ser avaliado, torna-se também impossível o cálculo do retorno dos investimentos, paralisando as inversões.

Nesse contexto, uma recessão seria inevitável, mas certos eventos de 2015 agravaram e espalharam a crise. O ajuste fiscal pouco saiu do papel, mas provocou queda de 35% do investimento público, atingindo os setores de máquinas e de insumos para construção. O mesmo resultou da desarticulação da construção pesada e da Petrobrás. O reajuste de tarifas públicas se deu de forma quase instantânea, provocando um choque nos orçamentos familiares, deprimindo a demanda e o retorno sobre o capital dos segmentos de bens de consumo. Por fim, o Banco Central aprofundou a alta dos juros, derrubando ainda mais as decisões de investir e as compras a crédito.

Não há solução para a crise no setor que não combine um mínimo retorno da confiança, redução de juros e estabilização do investimento público. Sem isso, a indústria terá outra queda drástica em 2016. Mas, se avançarmos nessas questões, a desvalorização da moeda – o único fator positivo nessa conjuntura – operará mais decisivamente como vetor do relançamento industrial.*Professor do Instituto de Economia da Unicamp e consultor do Iedi

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