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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O acarajé e as incertezas

A prisão do marqueteiro João Santana tende a enfraquecer ainda mais o governo Dilma e aumentar as dificuldades no Congresso

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Atualização:

O desdobramento da Operação Lava Jato nesta fase Acarajé traz o risco político para novos patamares e, com ele, aumentam as incertezas da economia que já vinha cambaleando.

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Como já avaliaram os comentaristas da área política, a prisão do marqueteiro João Santana tende a enfraquecer ainda mais o governo Dilma e, com isso, tende a aumentar as dificuldades no Congresso para aprovação das propostas do governo para a saída desta encalacrada.

Os projetos de ajuste fiscal divulgados na última sexta-feira pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, já haviam sido recebidos com alta dose de ceticismo, porque mostraram mais jogo de cena do que estratégia firme para enfrentamento da crise. Agora, os obstáculos políticos a essas propostas tendem a crescer. O que pretendia ser uma agenda positiva e garantir um mínimo de apoio político pode rapidamente desmanchar no ar. Nessas condições, a falta de uma direção firme de política econômica pode agravar o quadro econômico, na medida em que atira os agentes à defesa de sua renda e de seu patrimônio, adia ainda mais os investimentos e inibe a tomada de riscos.

Moro. Nova Fase Foto: ALEX SILVA | ESTADAO CONTEUDO

Como o juiz federal Sérgio Moro não é de dar ponto sem nó, essa nova fase pode trazer novas evidências do abuso do poder econômico e da utilização de recursos ilegais nas últimas campanhas políticas. Se isso se confirmar, parece inevitável que as bases políticas do governo federal se corroam ainda mais, num ambiente já eleitoralmente acirrado, quando começam a se definir as alianças e as candidaturas para as eleições municipais de outubro.

Na falta de comando confiável, alguns dos grandes problemas, como o da desordem das contas públicas e o da inflação, podem se agravar. Nesta terça-feira, por exemplo, foram divulgados os primeiros números da inflação de fevereiro, o IPCA-15, cuja base de cálculo é a mesma do IPCA, indicador que mede a evolução do custo de vida, com a diferença de que o período de 30 dias é medido da metade de um mês à metade do mês seguinte. Pois a inflação do período, 1,42%, foi substancialmente mais alta do que o resultado apurado em janeiro, 0,92%. Em 12 meses, a inflação saltou para 10,84%, a mais alta desde novembro de 2003. Por mais que alguns analistas tentem puxar por fatores sazonais – aqueles que não se repetirão tão cedo, como o do reajuste das mensalidades escolares e da condução urbana –, não dá para ignorar a força das remarcações e seu impacto sobre a renda, sobre a atividade econômica e sobre o emprego.

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Ainda é cedo para avaliar as consequências políticas tanto da Operação Acarajé quanto da nova deterioração das condições da economia, que já parecem encomendadas.

Vale perguntar até que ponto o PT, principal partido da base política, estaria disposto a continuar a sustentar o governo Dilma cujas propostas, especialmente a da nova redução das despesas e a da reforma da Previdência, vinham desagradando aos seus próceres.

O PT parece ensaiando a volta à oposição. E, a despeito das juras em contrário, é possível que estivesse mais à vontade se a presidente Dilma renunciasse.

CONFIRA

IDP Foto: Infográficos|Estadão

Aí está a sequência da entrada dos Investimentos Diretos no País nos últimos sete meses.

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Menos viagens ao exterior Duas observações sobre as contas externas de janeiro, nesta terça-feira divulgadas. A primeira tem a ver com o déficit das viagens. Em janeiro de 2015, foi de US$ 1,7 bilhão. Em janeiro de 2016, de apenas US$ 190 milhões. O brasileiro deixou de viajar ao exterior como antes. A outra conta que mostra dinamismo é a dos Investimentos Diretos no País. A deterioração da economia não está inibindo a entrada de investimentos, como mostra o gráfico.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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