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‘O Brasil tem, sim, condições de exportar conteúdo criativo’

Idealizador do evento que incorporou o Rio Content Market diz que idioma não pode ser visto como barreira

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Por Fernando Scheller
Atualização:
Evento agora unirá audiovisual, música e inovação, explica Lazarini Foto: Murillo Tinoco/Rio2C

O Rio Content Market, evento que se firmou nos últimos anos como referência para a produção audiovisual independente no Brasil, entra em nova fase em 2018. Sob nova direção, o evento cresceu, ganhou casa nova – deixou de ser realizado em um hotel para ocupar os espaços da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro – e até mudou de nome. O Rio Content agora faz parte do Rio2C, abreviação de Rio Creative Conference, que também incluirá temas como tecnologia e música.

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Criador do Rio2C, Rafael Lazarini voltou ao Brasil em 2016, após temporada em Los Angeles. Ele diz que falta integração entre os diferentes elos da indústria criativa brasileira, apesar dos avanços no audiovisual. A ideia agora é mostrar que as produções para a TV, de música e de conteúdos ligados à tecnologia – como os que usam realidade virtual – estão conectadas.

Para organizar o novo evento, Lazarini se inspirou em experiências internacionais – a mais clara referência é o megafestival americano South by Southwest, que transformou a cidade de Austin, no Texas, em um polo de cultura e inovação. Em um momento difícil para o Rio, que enfrenta dificuldades financeiras e uma intervenção federal na segurança, ele espera que a cidade possa se firmar como centro de disseminação de cultura.

Estado: O que muda na transição do Rio Content Market para o Rio 2C?Rafael Lazarini: Adicionamos duas novas disciplinas ao evento, que, além da produção audiovisual, passa a incorporar música e inovação. Além disso, depois da conferência para os profissionais, haverá uma programação voltada ao público final, ao espectador. 

Qual é o objetivo da mudança? Adquirimos o direito de usar o Rio Content Market e o incorporamos ao novo evento, Rio Creative Conference, ou Rio2C, mas mantivemos Carla Esmeralda como a principal curadora de conteúdos. O objetivo é transpor a barreira do audiovisual e falar de entretenimento de uma forma geral. 

Falta integração entre os diferentes elos do setor de entretenimento no Brasil? Sim. Passei boa parte dos últimos 12 anos em Los Angeles. É incrível como a indústria do entretenimento é pulsante lá. Por aqui, o olhar ainda é setorial, pensamos em música e audiovisual de forma independente. Mas temos todos os elementos para criar uma indústria do entretenimento muito forte. Essa integração é importante, porque a tecnologia pode informar a música, que pode informar o audiovisual. Está tudo conectado.

O fato de a produção brasileira ser em português limita as possibilidades de exportação do conteúdo? Não. A PriceWaterhouseCoopers tem uma pesquisa do setor de entretenimento que mostra que a América Latina terá o maior crescimento nessa área, num movimento liderado pelo Brasil. O idioma é um limitador que nós pensamos existir, mas que pode ser transposto. A série 3%, do Netflix, foi mais assistida no exterior que no Brasil. Tem artistas como Anitta fazendo parcerias internacionais. Os países nórdicos são exemplos de que o idioma não faz tanta diferença. Eles produzem conteúdo de qualidade, exportado para o mundo todo, em idiomas mais restritos que o português. 

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O que falta para o Brasil dar o salto definitivo para exportar conteúdo? A gente evoluiu muito em filmes e séries, e o Rio Content Market ajudou nesse processo. O Rio2C quer fazer o mesmo pelos outros setores. O mercado de música, por exemplo, sofreu com a pirataria e com o processo de digitalização do consumo. Antes, a gravadora cuidava de todo o processo – o artista só precisava assinar o contrato. Agora, para ter sucesso, o artista precisa ser uma espécie de homem de negócios. A gente precisa encontrar uma forma de reorganizar o setor, de organizar produção, distribuição e promoção, como as gravadoras faziam antes. 

O SXSW parece ser uma inspiração clara para o Rio2C. Não é apenas o South by Southwest, mas também o Web Summit, que criou uma revolução em Lisboa, trazendo profissionais de startups para a cidade. Acredito no poder transformador dos eventos. Veja o caso de Austin, onde se realiza o SXSW: é uma cidade do interior do Texas, um dos Estados americanos mais conservadores, que virou uma ilha de inovação. Os eventos têm uma capacidade de fomento muito forte. E não existe nada acontecendo no Hemisfério Sul. Queremos mudar isso. O evento cresce em um momento complexo para o Rio... Voltei para o Brasil em 2016, no meio daquele baixo astral pós-impeachment e num momento complicado para o Estado do Rio. O Rio Content Market também estava num momento crítico: acanhado. A estrutura não refletia a relevância dele. Havia um descasamento. Então, resolvemos ampliar o conceito e trazer o Rio Content Market para dentro desse guarda-chuva. O evento vai ser bom para o Rio, que sempre teve vocação para a indústria criativa. Vai ser importante também trazer o público final, fazer essa aproximação. 

E quais conteúdos serão trazidos para o público final? Além de conteúdos de audiovisual, vamos fazer o Festivalia, uma forma de trazer para o Rio artistas que vêm se apresentando em festivais independentes pelo Brasil. Também teremos experiências de realidade virtual e realidade aumentada.

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