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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|O dilema do Copom

O comunicado do Copom será fundamental para guiar as expectativas do mercado

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O Banco Central tem um grande dilema para resolver na próxima reunião do Copom, marcada para a semana que vem, quando a esmagadora maioria dos investidores e dos analistas espera uma redução adicional da taxa Selic em 0,25 ponto porcentual para 6,50%.

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No comunicado que acompanha a decisão, deixará o BC a porta aberta para seguir cortando os juros básicos ao longo deste ano ou dirá que o ciclo atual de afrouxamento monetário acaba, de fato, no Copom deste mês, mas que poderá manter os juros baixos por um tempo bem mais prolongado do que o mercado espera?

Desde a última reunião do Copom – quando o BC cortou a Selic para 6,75% e disse que a intenção era de encerrar o ciclo de afrouxamento monetário, mas que o cenário alternativo abria a possibilidade para uma redução adicional dos juros em março –, o mercado foi gradativamente migrando para uma aposta majoritária de corte da Selic na semana que vem à medida que a inflação seguiu surpreendendo para baixo e os indicadores de atividade econômica vieram mais fracos do que o estimado.

Na pesquisa Focus que antecedeu a reunião do Copom de 6 e 7 de fevereiro, a mediana das projeções apontava um IPCA subindo 3,94% em 2018. No mais recente levantamento, essa estimativa caiu para 3,67%.

Essa surpresa inflacionária, inclusive, foi enfatizada recentemente pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn. Para ele, a inflação parece ter se estabilizado no nível de 3% e a sua queda foi “inédita”. É bom lembrar que a meta do BC é de uma inflação de 4,5% em 2018 e de 4,25% em 2019.

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Na opinião de um importante executivo do mercado financeiro, com os dados recentes muito positivos de inflação, o BC provavelmente está preocupado com o risco de um IPCA neste ano muito abaixo da meta começar a afetar a previsão de inflação de 2019.

“Por outro lado, mesmo diante de uma dinâmica de inflação extremamente benigna, o Copom também deve estar alerta para o fato de o ciclo de afrouxamento já ter cortado a Selic em 7,5 pontos porcentuais em um curto espaço de tempo”, observa o executivo. “Assim, parte importante do estímulo dado à economia ainda não foi sentido.”

Outro motivo para justificar uma dose de cautela por parte do BC em cortar os juros abaixo de 6,50% é o fato de que, na reunião seguinte do Copom, marcada para os dias 15 e 16 de maio, o horizonte relevante da política monetária terá se deslocado primordialmente para a meta de 2019, alerta o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall.

“Assim, eventuais quedas adicionais na Selic deveriam ocorrer somente se a projeção de 2019 do próprio BC e do Focus recuassem de modo relevante, digamos para 4% ou menos”, diz Kawall.

Depois de ficar parada em 4,25% por 46 semanas consecutivas até a última pesquisa Focus de fevereiro, a estimativa de inflação para 2019 cedeu para 4,20%.

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Já a mediana das projeções para a taxa Selic caiu para 6,50% no fim deste ano. Para 2019, a mediana das previsões é de que os juros comecem a subir já em fevereiro, com a Selic terminando o ano que vem a 8,0%. Mas a previsão de médio prazo do Top 5 - o grupo de analistas que mais acertam esse indicador - aponta para uma Selic a 9,0% no fim de 2019.

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O comunicado do Copom da próxima semana será fundamental para guiar as expectativas do mercado não somente para a taxa terminal da Selic no atual ciclo de corte, como também em relação à trajetória dos juros em 2019.

Poderá o mercado postergar sua aposta para o início de um ciclo de alta de juros no ano que vem? Kawall, do Safra, espera o fim do ciclo de corte de juros neste mês e uma primeira alta da Selic somente no segundo semestre de 2019.

Já o executivo financeiro ouvido no início desta coluna considera que, diante da continuidade de inflação muito benigna, uma alternativa seria o BC indicar que não vai parar de vez em março, mas apenas “pausar” a fim de avaliar o impacto dos cortes já implementados, deixando a porta aberta para voltar a cortar a Selic caso as condições assim permitam mais à frente.

* COLUNISTA DO BROADCAST

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Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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