A vitória do "não" oferece ao menos uma chance de escapar da armadilha de mais medidas de austeridade. Como administrar essa escapatória? Há uma maneira de manter a Grécia no euro?
Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:
Crise da Grécia
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Crise na Grécia
Após protesto anti-austeridade na segunda-feira, manifestantes pró-acordo com credores internacionais tomaram as ruas de Atenas nesta terça-feira Foto: Aris Messinis/AFP
Grécia
Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Giannis Papanikos/AP
Bolsa de Atenas
Em 3 de agosto, a bolsa de Atenas reabriu após mais de um mês; ações de empresasdespencaram e o mercado registrou as maiores baixas desde os anos 1990 Foto: Aris Messinis/AFP
Grécia: Tsipras
Em 23 de julho, durante seusegundo teste de resistência no Parlamento grego, o premiê Alexis Tsipras conseguiu apoio para aprovar uma segunda rodada d... Foto: Alkis Konstantinidis/ReutersMais
Grécia
Os bancos reabriram em 20 de julho após três semanas fechados, porém ainda com restrições a operações financeiras; na foto, pessoas mais velhas recebe... Foto: Louisa Goulamakis/AFPMais
Grécia protesto
Manifestante participa de protesto em Atenas nesta quinta-feira, 15 de julho; funcionários públicos realizam greve de 24 horas contra as novas medidas... Foto: Reuters Mais
Grécia protesto
Manifestante participa de protesto em Atenas nesta quinta-feira, 15 de julho; funcionários públicos realizam greve de 24 horas contra as novas medidas... Foto: AFPMais
Grécia
Em 13 de julho, líderes da zona do euro chegaram a um acordo para manter a Grécia no blocoe reescalonar sua dívida em troca de reformas; medidas ainda... Foto: Thierry CharlierAFPMais
Tsipras
Após ultimato da União Europeia, Grécia corre contra o tempo para fechar um acordo e evitar a saída da zona do euro Foto: Vincent Kessler/Reuters
Grécia
Euclid Tsakalotos, que era o vice-ministro das Relações Exteriores da Grécia, assumeas Finanças no lugar de Yanis Varoufakis Foto: Alkis Konstantinidis/Reuters
Grécia__Varoufakis
Na bolsa de valores indiana,TV exibe imagem do ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, que renunciou ao cargo nesta segunda-feira por pressão d... Foto: PUNIT PARANJPE/AFPMais
Grécia Não
Neste domingo, 5, mais de 60% da população grega votou 'não' no plebiscito sobre aceitar as condições impostas pela União Europeia para o resgate fina... Foto: Punit Paranjpe/AFPMais
Crise na Grécia
Manifestante com a palavra grega 'oxi', que significa 'não', durante protesto nesta sexta-feira contra as medidas de austeridade exigidas peloscredore... Foto: Petros Giannakouris/AFPMais
Crise na Grécia
Os defensores do 'oxi'(não) reuniram uma multidão em frente à praça do parlamento grego, no centro da capital Atenas, nesta sexta-feira Foto: Yannis Behrakis/Reuters
Crise na Grécia
Manifestantes durante protesto nesta sexta-feira pelo 'sim' no plebiscito que pode definir o futuro da Grécia Foto: IAKOVOS HATZISTAVROU/AFP
Crise na Grécia
Uma pesquisa do instituto Alco mostrou uma vantagem de 1 ponto porcentual para o 'sim'; na foto, manifestantes com cartazescom a palavra 'nai', que si... Foto: IAKOVOS HATZISTAVROU/AFPMais
Grécia
Nesta quarta-feira, 1º, mil agências bancárias abrem no país para que aposentados e pensionistas saquem benefícios, o que causa tumultos Foto: Angelos Tzortzinis/AFP
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Nas agências bancárias, é possível sacar até € 120 por pessoa Foto: Giannis Papanikos/AP
Crise na Grécia
Polícia fez uma barreira na frente doprédio do parlamento grego, durante protesto nesta terça-feira em Atenas Foto: Marko Djurica/Reuters
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Manifestantes pró-União Europeiaprotestam em Atenas para que o governo grego aceite o programa de austeridade proposto pelos credores internacionais p... Foto: LOUISA GOULIAMAKI/AFPMais
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Milhares de pessoas participaram nesta terça-feira do protesto em apoio ao acordo comcredores internacionais para resgatar a economia grega Foto: Aris Messinis/AFP
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Manifestante sacode bandeira da União Europeia durente o protesto nesta terça-feira em frente ao parlamento grego, em Atenas Foto: Yannis Behrakis/Reuters
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Manifestantes tentam avançar contra barreira policial montada em frente ao parlamento grego nesta terça-feira Foto: Marko Djurica/Reuters
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Primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsiprasdecidiu jogar a decisão sobre a relação com a União Europeia para as mãos da população,convocando um refere... Foto: Aris Messinis/AFPMais
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Pesquisas de opinião mostram que a maioria da opinião pública da Grécia preferiria a vitória do "Sim", que siginifica pró-acordo com a Europa Foto: Marko Djurica/Reuters
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Manifestante segura bandeira com a palavra "sim" em grego, que significa o apoio ao acordo com credores internacionais,durante protesto nesta terça-fe... Foto: Louisa Gouliamaki/AFPMais
Crise na Grécia
Desde o final de semana, o premiê grego AlexisTsipras vem pregando o voto contrário ao acordo com credores internacionais – o"Não"no referendo convoca... Foto: Aris Messinis/AFPMais
Crise na Grécia
Um eventual entendimento entre Atenas e Bruxelas, nos termos propostos pela União Europeia,develevar a consequências políticas graves para o primeiro-... Foto: Yannis Behrakis/ReutersMais
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Ações despencaram nas bolsas asiáticas com o agravamento da crise grega Foto: AP
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Aposentados e pensionistas tentam sacar benefícios em bancos gregos e discutem com funcionários Foto: Stefanos Rapanis/Reuters
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Giannis Papanikos/AP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Louisa Gouliamaki/AFP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Louisa Gouliamaki/AFP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Giannis Papanikos/AP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Louisa Gouliamaki/AFP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Louisa Gouliamaki/AFP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Louisa Gouliamaki/AFP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Giannis Papanikos/AP
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Membros de partidos de esquerda protestam em Atenas contra a União Europeia Foto: Louisa Gouliamaki/AFP
A Europa escapou por pouco no domingo. Contrariando muitas previsões, os eleitores gregos votaram majoritariamente em favor da rejeição das demandas dos credores por parte do seu governo. E até os mais ardentes defensores da união na Europa deveriam respirar aliviados.
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É claro que não é isso que os credores querem mostrar ao público. A narrativa deles, ecoada por muitos no jornalismo econômico, diz que o fracasso de sua tentativa de intimidar a Grécia a aceitar as condições impostas foi um triunfo da irracionalidade e irresponsabilidade contra sólidos conselhos tecnocráticos.
Mas a campanha de intimidação - a tentativa de aterrorizar os gregos com o corte do financiamento bancário e ameaça de caos generalizado, com o objetivo praticamente declarado de derrubar o atual governo de esquerda - foi um momento vergonhoso de uma Europa que diz acreditar nos princípios democráticos. O sucesso da campanha teria estabelecido um terrível precedente, ainda que a narrativa dos credores fizesse sentido.
O pior é que essa narrativa não fazia sentido. A verdade é que os supostos tecnocratas da Europa são como médicos medievais insistindo em sangrar seus pacientes - e, ao ver que o tratamento deixava os enfermos ainda mais doentes, exigiram sangramento maior. Uma vitória do "sim" na Grécia teria condenado o país a mais anos de sofrimento sob políticas que não funcionaram e, na verdade, levando em consideração a aritmética, não podem funcionar: é provável que a austeridade reduza a economia mais rápido do que reduz a dívida, de modo que todo o sofrimento acaba não servindo a propósito nenhum. A vitória esmagadora do "não" oferece ao menos uma chance de escapar dessa armadilha.
Mas como administrar essa escapatória? Há uma maneira de manter a Grécia no euro? E, em todo caso, será que isso é desejável?
A questão mais imediata envolve os bancos gregos. Em antecipação ao referendo, o Banco Central Europeu cortou seu acesso a fundos adicionais, ajudando a precipitar o pânico e obrigando o governo a impor um feriado bancário e o controle de capitais.
O banco central enfrenta agora uma escolha difícil: se o financiamento normal for retomado, a instituição vai praticamente admitir que o congelamento anterior teve raízes políticas, mas, se isso não for feito, a Grécia será obrigada, na prática, a introduzir uma nova moeda.
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Especificamente, se o dinheiro não começar a fluir a partir de Frankfurt (sede do banco central), a Grécia não terá escolha a não ser começar a pagar salários e pensões com promissórias, que funcionarão como uma moeda paralela de fato - a qual poderia em breve se transformar no novo dracma.
Suponhamos, por outro lado, que o banco central retome a normalidade nas operações de crédito, aliviando a crise bancária. Isso nos deixa com a questão de como restaurar o crescimento econômico.
Nas negociações fracassadas que culminaram no referendo de domingo, o principal ponto foi a exigência grega de alívio permanente para a dívida, removendo a nuvem que paira sobre sua economia. A troika - as instituições representantes dos interesses dos credores - recusou, embora saibamos hoje que um dos membros da troika, o Fundo Monetário Internacional, tinha concluído independentemente que a dívida da Grécia não pode ser paga. Mas será que elas vão reconsiderar sua posição, agora que a tentativa de tirar do governo a coalizão esquerdista fracassou?
Não sei a resposta - e, seja como for, há agora sólidas argumentações indicando que a saída da Grécia do euro seria a melhor dentre as opções ruins.
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Imaginemos, por um momento, que a Grécia jamais tivesse adotado o euro, optando simplesmente por definir um câmbio fixo entre dracmas e euros. De acordo com uma análise econômica elementar, o que o país deveria fazer agora? A principal resposta seria a desvalorização - permitir uma queda no valor do dracma, tanto para incentivar as exportações como para romper o ciclo deflacionário.
É claro que a Grécia não tem mais sua moeda própria, e muitos analistas costumavam afirmar que a adoção do euro seria uma jogada irreversível - afinal, qualquer sugestão de saída do euro detonaria uma série de devastadoras corridas bancárias e uma crise financeira. Mas, a essa altura, como a crise financeira já ocorreu, até o momento os maiores custos de uma saída do euro já foram pagos. Que motivo haveria agora para deixar de buscar os benefícios desse rumo?
Será que a saída da Grécia do euro funcionaria tão bem quanto a extremamente bem-sucedida desvalorização da moeda islandesa em 2008-09, ou o abandono da política de equivalência cambial entre peso e dólar na Argentina em 2001-02? Talvez não - mas pense nas alternativas. Se a Grécia não receber um substancial alívio para sua dívida, e talvez mesmo com esse alívio, a saída do euro oferece a única rota de fuga plausível desde interminável pesadelo econômico.
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E sejamos claros: se a Grécia de fato deixar o euro, isso não significa que os gregos são maus europeus. O problema de endividamento do país refletiu a irresponsabilidade na concessão e na tomada de empréstimos e, seja como for, os gregos já pagaram repetidas vezes pelos pecados do seu governo. Se a Grécia não conseguir funcionar com a moeda comum da Europa, isso mostra que essa moeda não oferece alívio a países em dificuldades. O important agora é fazer tudo que for necessário para acabar com a hemorragia. Tradução de Augusto Calil