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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O investimento desaba

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Atualização:

O desempenho do investimento neste primeiro semestre foi ainda mais insatisfatório do que o do PIB, que, apesar de tudo, ainda cresceu 0,5% em relação ao do primeiro semestre de 2013.Os números são implacáveis. O investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) caiu 5,3% no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior e 11,2% em relação ao mesmo período do ano passado. O gráfico ao lado mostra como vêm despencando o investimento e a poupança.Dizer apenas que algo está errado não leva muito longe. Esta coluna pinça aqui algumas avaliações.A presidente Dilma, que foi eleita em 2010 como a "mãe do PAC", ou seja, como competente administradora dos investimentos públicos, teve e continua tendo em relação ao investimento nacional uma atitude contraditória. A política predominante até recentemente não foi dar prioridade ao PAC e aos investimentos. Foi dar curso ao que entendeu ser uma política anticíclica, baseada no aumento do consumo das famílias, no pressuposto de que o investimento seria apenas consequência. Era criar mercado, que a produção viria atrás.Não veio, porque o investimento saiu a conta-gotas. A indústria brasileira não tem competitividade, está sucateada, como admite resignadamente o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges. Mesmo as mais modernas ficaram para trás porque o alto custo Brasil não as deixa competir com o produto importado nem lá fora nem aqui dentro. Isso não acontece apenas porque o câmbio está fora de lugar.A presidente Dilma entendeu que, para provocar o deslanche dos projetos, bastaria "convocar a burguesia", puxar pelo seu brio e pelo seu espírito animal.Em seguida se viu que também a confiança entrou em colapso. O governo Dilma se meteu demais no dia a dia dos negócios e criou instabilidade demais em condições básicas de funcionamento da produção, como nas tarifas da energia elétrica e dos combustíveis. O resultado foi o de que, até mesmo nos setores mais dinâmicos da economia, como o do etanol, houve mais desinvestimento do que investimento. Embora o dado não tenha sido medido pelo IBGE, há indicações de que o investimento público em relação à renda do governo caiu substancialmente. Está emperrado, por uma conjugação de fatores. O mais importante é a situação do Tesouro: está espremido como tubo usado de dentifrício. Por isso, o governo não teve saída senão ativar as Parcerias Público Privadas (PPPs) e as concessões. Mas aí também quase não teve jogo, porque até nos leilões o governo pretendeu tabelar preço. E, também, porque as dezenas de repartições públicas não se entendem, são incapazes de definir regras sustentáveis.A economia brasileira não precisa de distribuição de bondades aos setores mais chegados. Para que recupere competitividade, o setor produtivo precisa de três coisas: (1) precisa de reformas: política, do sistema tributário, da Previdência Social e das leis trabalhistas; (2) precisa de arrumação da economia para que os fundamentos sejam recuperados; e (3) precisa de melhoria da confiança, que é consequência das anteriores.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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