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O lado bom que restou

Meirelles, Goldfajn & cia. têm conseguido manter-se distantes da crise política, tocando o dia a dia

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Por Suely Caldas
Atualização:

A economia sofreu efeitos (até leves, para o tamanho da confusão) no câmbio, na Bovespa e nas intenções de investimento, que mal engatinhavam. Mas o programa econômico do governo Temer foi preservado, seguiu em paralelo, não se misturou à enxurrada de denúncias e delações de crimes, propinas, corrupção, contas na Suíça, profusão de bandalheiras com o dinheiro público que tem perigosamente agravado a descrença e o divórcio entre a população e seus dirigentes políticos.

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Politicamente fragilizado, o presidente Temer se agarra ao programa e às reformas nele contidas – o legado sadio de seu governo – para tentar sobreviver. Se ele cair, seu substituto, se juízo e responsabilidade tiver, certamente levará adiante esse programa.

Depois que recentes fatos revelaram que os dois ministros da Fazenda de Lula e Dilma ocupavam lugar de destaque na bandalheira, responsáveis que eram por extrair propina dos empresários e distribuí-la aos políticos, chega a ser espantoso para o cidadão comum que até agora nada tenha surgido contra a equipe que formulou e executa o programa econômico.

Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn & cia. têm conseguido manter-se distantes, tocando o dia a dia, não ignorando a crise política, mas tratando-a a partir de seus efeitos técnicos, como se espera na definição da taxa Selic na próxima quarta-feira. E por que essa equipe, até agora, tem passado ao largo da confusão?

Simplesmente porque a escolha desta equipe, a blindagem dela contra interferências políticas e sua autonomia de decisões e ações, desde o primeiro momento, foram condições negociadas com Michel Temer para a aceitação dos cargos.

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Para enfrentar o desastre econômico herdado e recuperar a confiança estraçalhada por Dilma, ele precisava de um aval econômico respeitado, já que sobre sua equipe política só borbulhavam suspeitas, que a Operação Lava Jato logo tratou de confirmar. Para Temer, melhor passar para a história como presidente impopular porque teve a coragem (que não tiveram os antecessores) de levar adiante uma agenda também impopular, mas absolutamente necessária para o País voltar a respirar, prosperar e gerar empregos do que como o presidente medíocre que empurrou a gestão com a barriga, como fez José Sarney, prolongou e agravou o sofrimento da população e adiou o futuro do País.

Nos últimos dias, enquanto os sindicalistas gritavam, os black blocs incendiavam Brasília e os socos se multiplicavam no Congresso Nacional, a Agência Nacional do Petróleo propagava as próximas rodadas de petróleo para investidores no exterior, a Secretaria do Tesouro divulgava o superávit primário de R$ 12,57 bilhões em abril, o BNDES dava seguimento às parcerias público-privadas em saneamento e distribuição de gás, a Eletrobrás anunciava seu plano de demissão voluntária e a Petrobrás reduzia o preço da gasolina e do diesel. Trabalhadores saíam cedo de casa para trabalhar e crianças iam para a escola. O Brasil andava. Como tem de ser.

Substituto. É certo que Henrique Meirelles exagerou ao anunciar para investidores que o rumo da economia não muda, com ou sem Temer. Afinal, não se sabe o que vem por aí se o presidente renunciar ou deixar o cargo depois do julgamento da chapa Dilma-Temer, no próximo dia 6. A cada dia aumenta sua fragilidade política, e até o PSDB e o DEM, partidos que apoiam Temer, já discutem nomes para substituí-lo. Juristas, cientistas políticos e mesmo amigos pessoais e de partidos aliados apostam em que ele não se sustenta diante da gravidade dos fatos revelados na gravação da JBS.

O mais provável, racional e menos traumático seria sua substituição seguir o que já está escrito na Constituição: eleição indireta em 30 dias, período em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assume o comando do País. Sempre discreta, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, guardiã da Constituição, defendeu claramente essa linha. E os candidatos? Envolvidos nas investigações da Lava Jato, nem pensar. O País e os eleitores não aceitam nem merecem. Seja quem for, tomara que não desperdice os avanços, não ande para trás, mantenha as reformas e confie na turma da economia.

*jornalista

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