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O melhor e o pior de Varoufakis em seis meses de momentos memoráveis

Polêmico, ex-ministro das Finanças da Grécia não teve sucesso como negociador e gerou polêmica ao mostrar sua vida luxuosa em revista

Por Jenny Paris e Nikos Chrysoloras
Atualização:

No começo eram a jaqueta de couro, a moto e sessões de fotos do homem que para todos parecia mais um astro do rock do que ministro das finanças. Depois vieram as conferências e as propostas que deixaram seus contrapartes europeus perplexos e muitas vezes irritados.

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Agora que Yanis Varoufakis deixa o posto e se retira das urgentíssimas conversações com o objetivo de manter o país dentro da zona do euro, as teorias do professor de economia sobre como resolver o mal-estar da Europa voltam para o domínio acadêmico, ao seu blog e conta no Twitter.

Desde a condenação dos credores da Grécia até propostas para recrutar turistas para combater a evasão fiscal durante discussões iradas numa reunião de cúpula na Letônia, eis aqui alguns dos momentos e comentários memoráveis do ex-ministro durante o tempo em que esteve no cargo:

Janeiro:

Eleito com o maior número de votosobtido por nenhum outro deputado no novo parlamento grego, Varoufakis anuncia em seu blog que será o novo ministro das Finanças, antes mesmode o primeiro ministro Alexis Tsipras anunciar seu gabinete.

"Naturalmente minhas postagens serão mais raras e breve", escreveem seu blog. "Mas espero compensar isto com opiniões, comentários e insights mais proveitosos". Ele continua com os comentários e no mínimo quatro entrevistas por dia.

Camisa fora da calça e sem gravata, Varoufakis declara numa coletiva de imprensa na sua primeira semana no cargo que a Grécia "não cooperará com esta criação esdrúxula", a Troica".

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O que provoca uma resposta visivelmente irritada do ministro holandês das Finanças, Jeroen Dijsselbloem, que interrompe a coletiva e sussurra no ouvido de Varoufakis antes de cumprimentá-lo com relutância. "Você simplesmente acabou com a Troica", teriadito a ele.

Fevereiro 

O ministro grego realiza uma viagem pelas capitais europeias, passando por Paris, Londres, Frankfurt e Berlim, para justificar porque a Grécia necessita de um alívio da dívida em primeiro lugar.

Sai de uma reunião com o presidente do BCE - Banco Central Europeu, Mario Draghy, afirmando ter mantido "conversações muito frutíferas". No fim do mesmo dia, Draghi corta o fluxo de fundos diretos para os bancos gregos, o que os deixa dependendo de financiamentos de emergência.

"Concordamos em discordar", disse o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble,a jornalistas depois da primeira reunião com seu contraparte grego em Berlim. Varoufakis retruca que "nemchegamos a concordar em discordar". 

De volta a Atenas ele informa os parlamentares que, apesar da sua afinidade com a teoria dos jogos, não a aplicaria à Grécia.

"A teoria do jogo é para jogos; você não brinca com o destino da Grécia e o destino da Europa".

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Em seu primeiro encontro com colegas da zona do eurochega quase a um acordo para ampliar o pacote de ajuda para a Grécia, mas volta atrás. Quando finalmente chegam a um acordo para estender o pacote de ajuda até final de junho, Varoufakis comenta: "Às vezes como Ulisses você precisa se amarrar a um mastro para chegar onde pretende e evitar as sereias".

Março 

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Sua "realidade alternativa" leva Dijsselbloem a afirmar que as conversações são "total perda de tempo". Os ministros das Finanças recusam-se a debater seriamente sua proposta de combater a evasão fiscal contratando "um grande número de inspetores não-profissionais".

Deixando Tsipras em Bruxelas, ele segue para Cernobbio na Itália para um simpósio econômico junto com sua mulher, a artista Danae Stratou. E declara que a política de afrouxamento quantitativo de Mario Draghi "está condenada ao fracasso".

Enquantoas conversaçõesse deterioram ele posa com a mulher no seu terraço com vista para a Acrópole e senta-se ao piano em fotos para a revista Paris Match. Mais tarde diz lamentar tudo aquilo. 

Abril 

A situação se torna realmente explosiva quando Varoufakis sofre uma pesada derrota emreunião dos ministros das Finanças da zona do euro em Riga com sua recusa em oferecer propostas confiáveis, de acordo com pessoas ligadas às conversações. É acusado de ser um jogador, um amador e uma perda de tempo.

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"Eu descreveria a reunião de hoje como uma total pane de comunicação com a Grécia", disse o ministro das Finanças de Malta Edward Scicluna. Varoufakis, que não compareceu a um jantar tradicional com seus colegas naquela noite, qualificou o encontro de "intenso".

Mais tarde ele revela numa entrevista concedida ao The New York Times que havia gravado seus colegas na reunião, mas nega que foi alvo de abuso.

Tsipras intervém para liderar as negociações nas reuniões com os diretores do BCE, a Comissão Europeia e o FMI - Fundo Monetário Internacional.

Maio

Varoufakis nega ter sido marginalizado e afirma que o governo está disposto a "ir até o fim" nas conversações com os credores. Depois de mais de cem dias de negociações,continua assegurando a todos que um acordo está próximo.

"A Europa trabalha de modo glacial e no final age corretamente depois de tentar todas as alternativas", diz ele à BBC, em sete de maio. "De modo que provavelmente não vamos ter um acordo na segunda-feira, mas talvez nas próximas semanas".

Sem um acordo chega um momento em que a Grécia não conseguirá cumprir com suas obrigações,ele alerta.

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"Nosso governo não pode - e não o fará - aceitar um remédio que durante cinco longos anos provou ser pior que a doença", afirma em 25 de maio. 

Junho

 

Quando as negociações tomam rumos inesperados depois de um colapso em Luxemburgo, Tsipras convoca um referendo sobre as últimas propostas feitas pelos credores.

Varoufakis fica fora de uma reunião com outros ministros e segue para a Atenas para fazer campanha pelo "não".

Julho 

Em entrevista para a Bloomberg Television, ele afirma que "cortaria meu braço", mas não firmaria um mau acordo para a Grécia,e que renunciaria se a Grécia votasse "sim" a mais austeridade. Os gregos apoiaram enfaticamente o seu governo com 61% do eleitorado votando "não". 

Varoufakis deixa o ministro das Finanças na noite de domingo sob fortes aplausos dos partidários no centro de Atenas. Pela manhãdeixa o cargo afirmando que havia uma "certa preferência" dos credores europeus por um novo rosto. Tradução de Terezinha Martino 

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