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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O PIB reage, mas não passa firmeza

O avanço da atividade econômica ficou marcado pela alta concentração em poucos setores da economia

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

O presidente Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, festejaram nesta quinta-feira o que chamaram de “fim da recessão”. Mas estão comemorando vitória antes do fim do jogo. (Sobre os conceitos técnicos de recessão, veja o Confira).

O primeiro avanço trimestral do Produto Interno Bruto (PIB) em dois anos aconteceu no primeiro trimestre de 2017. Foi de nada menos de 1,0% sobre o quarto trimestre do ano passado, em média mais do que o esperado pelos analistas. É, sim, excelente notícia, mas ainda não dá a taça para o capitão do time. E há pelo menos duas razões para pedir mais prudência nessa louvação.

Atividade econômica voltou a crescer após 8 trimestres de queda Foto:

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A primeira delas é a alta concentração desse avanço em poucos setores da economia. O PIB cresceu até agora graças à força do agro (13,4%), pelo lado da oferta; e das exportações, pelo lado da demanda (4,8%). Não dá para dizer que o avanço da indústria (0,9%) foi uma ajuda relevante para garantir sustentação do PIB, porque a base de comparação é relativamente baixa e porque não há ainda tração no consumo das famílias (- 0,1%). Se o consumo está fraco, a criação de renda, que é a própria definição do PIB, também está fraca. Ou seja, o crescimento ainda é desigual, é saúde apenas das pernas e não dos pulmões e do resto.

ENTENDA: O que é o PIB e como ele é calculado?

A segunda razão são as novas incertezas impostas pela crise política, que têm potencial para nova onda paralisante. Qualquer um sente isso: quando começava nova disposição a consumir e a sair da toca, eis que saiu a divulgação do conteúdo da delação premiada dos irmãos Batista, da JBS, e tudo ficou tão bambo que levou todo mundo de volta para a retranca. O reconhecimento dessa nova safra de incertezas já é oficial, a despeito das cornetadas do Palácio do Planalto: foi o próprio Banco Central que, em documento do Copom, avisou nessa quarta-feira que as incertezas aumentaram com a crise política – e nisso, rejeita o ufanismo da dupla Temer-Meirelles, hoje empenhada em alardear que a economia está descolada da crise política.

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Mas convém olhar para o limite oposto. Também não dá para garantir que esse crescimento seja apenas ponto fora da curva e que o segundo trimestre mostre novo recuo. Boa parte da renda do agronegócio ainda está para ser incorporada, a distribuição do FGTS das contas inativas ajudou muita gente a pagar as dívidas e abrir espaço para mais consumo e a indústria tem enorme capacidade ociosa que pode ajudar a faturar sem exigir novos investimentos. Os resultados deste trimestre e dos próximos dependem dos desdobramentos da crise política.

A amarração entre os destinos da economia e da política fica mais clara quando se olha para as contas públicas. Crise política é ameaça séria de deterioração do lado fiscal, até porque pode comprometer as reformas. Mais despesas públicas empurram a dívida para cima e tendem a desorganizar tudo.

Do ponto de vista da recuperação sustentável da economia e do emprego, o melhor que poderia acontecer agora seria a troca rápida de presidentes, com manutenção da atual política econômica.CONFIRA:

>>Fim da Recessão?

Os economistas têm lá suas convenções. Uma delas é de que dois trimestres consecutivos de queda do PIB caracterizam recessão. Pela lógica, o fim de um período de recessão deveria acontecer com dois trimestres seguidos de crescimento. Mas não é tão simples assim. De acordo com o National Bureau of Economic Research, instituto dos Estados Unidos que estuda os ciclos econômicos, recessão é o período que vai do pico, quando a economia se estabiliza após constantes altas, ao vale, ou seja, a economia estagnada após quedas constantes. A expansão se daria no inverso: do vale ao pico.

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Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, a alta do primeiro trimestre de 2017 é apenas um pé pra fora da recessão. “É preciso que o segundo trimestre venha no mínimo estável e o terceiro, positivo.” O superintendente do Ibre/FGV, Aloisio Campelo Jr., é cauteloso quanto a prazos. “Recuperação exige tendência de alta sólida e constante, ou estaremos apenas em um longo período de transição.” /Com Bianca Soares, especial para ‘O Estado’

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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