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Economia e políticas públicas

Opinião|O PSDB e a economia

Corrupção, na confluência entre público e privado, é argumento pró-liberalismo

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Atualização:

O PSDB está historicamente associado à agenda de política econômica liberal, cujo grande marco inicial no atual período histórico foi o sucesso do Plano Real, seguido das privatizações e reformas de Fernando Henrique Cardoso.

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O liberalismo tucano nunca foi radical. Seja na regulação do sistema bancário, na política industrial, na elevação da carga tributária, no aumento dos benefícios sociais e previdenciários e na reforma tímida da Previdência, sempre se tratou de posições centristas, e não de propor um capitalismo turbinado. Algo mais para Emmanuel Macron do que para Margaret Thatcher.

Há estudos acadêmicos que mostram que partidos que cuidam bem da sua “marca”, isto é, da sua identidade ideológica, têm maiores chances de sobrevivência no longo prazo. Esse é um fato fácil de observar na história recente do Brasil. Basta ver o estrago causado no PSDB e no PT, respectivamente, pelos “estelionatos eleitorais” de 1999 (desvalorização do câmbio) e 2015 (política econômica liberal de Joaquim Levy).

Com o fragoroso fracasso da “nova matriz econômica”, a tentativa de reviver o nacional-desenvolvimentismo pelo PT, o moderado liberalismo tucano tornou-se um trunfo político-eleitoral. Depois de anos em que os governos petistas demonizaram de forma eficaz as privatizações e boa parte da agenda liberal dos anos 90, embalados pelo sucesso econômico de 2004 a 2010, finalmente se tornou possível defender o ajuste fiscal e menos intervenção do Estado na economia. Até a corrupção, que nasce na confluência entre o público e o privado, tornou-se um argumento a favor do liberalismo.

Ficou mais fácil, para os ideólogos tucanos, vender a ideia de que a era de ouro de 2004 a 2010 deveu-se a uma combinação dos efeitos defasados das reformas liberais de Fernando Henrique Cardoso e do próprio Lula no início do seu governo com um excepcional boom das commodities exportadas pelo Brasil. E ficou mais fácil também vender a ideia de que os governos petistas entornaram o caldo, ao promover uma gastança irresponsável nos tempos de vacas gordas, que está na origem da dramática recessão atual.

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É curioso, portanto, que o PSDB, naquele que poderia ser o seu momento de glória ideológico, esteja na verdade às voltas com mais uma interminável crise, mergulhado numa das suas características indecisões, desta vez, sobre sair do governo Temer ou nele se manter.

Na verdade, a situação do partido é de fato complicada. Não é trivial que Aécio Neves, um dos principais caciques e o candidato que chegou perto de bater Dilma Rousseff em 2014, tenha sido destroçado por denúncias de corrupção.

E é compreensível que o PSDB tenha entrado num governo que chegou ao poder depois da queda de uma presidente filiada ao PT, seu principal adversário histórico – mais ainda quando se considera que a equipe e o programa econômico de Temer são o sonho de uma noite de verão da “intelligentsia” tucana.

Mas o fato é que Temer se embrulhou em denúncias politicamente devastadoras, tem uma popularidade abissal e provavelmente contaminará seus parceiros na disputa eleitoral de 2018.

Uma alternativa para o PSDB que valorizaria a “marca”, sem tirar o partido do jogo, seria sair do governo, entregando os cargos, anunciar apoio parlamentar à agenda de reformas e liberar os deputados da sua bancada para acatar ou rejeitar as denúncias da Procuradoria-Geral da República contra Temer de acordo com a consciência de cada um.

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Uma solução desse tipo vincularia definitivamente o PSDB à sua bagagem histórica de partido reformista. É compreensível que parte dos políticos tucanos hesite em se associar a iniciativas impopulares no curto prazo, como a reforma da Previdência.

Mas não dá para fugir da própria identidade. Fora a ligação com políticas econômicas racionais que já fizeram muito pelo País, o PSDB é apenas um partido como os outros – o que no Brasil significa não ser quase nada.

*É COLUNISTA DO BROADCAST E CONSULTOR DO IBRE/FGV

Opinião por Fernando Dantas
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