A balança comercial do Brasil (exportações menos importações) continua passando excelentes sinais. O saldo positivo (superávit) do mês atingiu US$ 4,4 bilhões, quase dez vezes mais alto do que os US$ 460 milhões apresentados em março de 2015. Em apenas três meses, é de US$ 8,4 bilhões. No primeiro trimestre de 2015 foi registrado um saldo negativo de US$ 5,5 bilhões (veja o gráfico abaixo).
A recessão tem muito a ver com esse ótimo desempenho, não só porque trabalhou pela redução das importações (queda de 33,4% em relação ao primeiro trimestre de 2015), como permitiu a formação de excedentes exportáveis, ou seja, levou o brasileiro a consumir menos e a deixar mais sobras para exportar.
Mas a recessão não explica tudo. Esse resultado tem também muito a ver com a alta do dólar (desvalorização do real), que barateou o produto brasileiro no exterior e impulsionou as exportações. E também tem a ver com o bom desempenho da produção de grãos, especialmente soja, que deve ultrapassar nesta safra os 100 milhões de toneladas.
Ainda assim, as receitas do primeiro trimestre ficaram 5,1% mais baixas do que as de igual período de 2015, porque os preços das commodities, que pesam 46% no total exportado, mergulharam.
Com os números apresentados em março confirma-se a excelente expectativa das contas externas. Só a balança comercial apresenta hoje um arranque capaz de produzir um superávit acumulado em 2016 de US$ 45 bilhões a US$ 50 bilhões. É a principal razão pela qual se pode esperar pela reversão do déficit em transações correntes, a conta que registra todas as entradas e saídas de moeda estrangeira, com exceção do fluxo de capitais. Quer dizer, ficou mais provável que o déficit de US$ 58,9 bilhões registrado no ano passado fique zerado ainda no primeiro trimestre de 2017.
Como se espera uma entrada líquida de investimentos estrangeiros de US$ 55 bilhões, a tendência é de que prevaleça alguma folga (sobra de dólares) na área cambial, apesar da enorme crise política e econômica. Essa é uma das razões que explicam a nova tendência de queda das cotações do dólar no câmbio interno. Mas há pelo menos mais duas razões: a enorme sobra de dólares no mercado internacional em consequência da atuação dos grandes bancos centrais; e os juros altos no mercado financeiro interno, fator que atrai capitais interessados na remuneração em reais. O Banco Central vem atuando para evitar um mergulho ainda maior das cotações do dólar.
Embora venha alarmando o mundo com a desaceleração de sua economia, a China continua sendo o maior importador do Brasil: US$ 7,6 bilhões no primeiro trimestre. É seguida pela União Europeia, que importou US$ 7,5 bilhões.
O item negativo é a forte retração das importações de bens de capital no trimestre: queda de 27% quando comparadas às de 2015. Mostra a baixa disposição do setor produtivo a investir, o que também é consequência da crise e da forte recessão.
CONFIRA:
Os números ruins sobre o desempenho da indústria vão se repetindo. O gráfico mostra o levantamento feito pelo IBGE. A produção acumulada nos dois primeiros meses do ano é 11,8% mais baixa do que a do primeiro bimestre de 2015.
Sem reação O fator mais desalentador é o de que ninguém vê perspectiva de melhora. A recessão deve se aprofundar e está na planilha dos analistas. Com isso, o investimento também fica prejudicado, porque as empresas preferem esperar pelos sinais de melhora antes de desengavetar projetos.