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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O trimestre percorrido

A economia, afinal, vai bem ou vai mal? A reposta não é tão simples

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Atualização:

Vai ou não vai? É a pergunta que está na cabeça das pessoas uma vez completado o primeiro trimestre de um ano do qual se espera consistente recuperação da economia.

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Não dá para responder em duas palavras. Há coisas muito boas na economia brasileira, outras nem tanto e outras, ainda, muito ruins. Esta Coluna trata disso.

A maior de todas as surpresas positivas é o comportamento da inflação. Alguma coisa em torno dos 2,90% nesses 12 meses terminados em março e, provavelmente, algo assim também nos 12 meses seguintes são números impressionantes para quem acompanhou o que aconteceu por aqui nos últimos 50 anos.

E os juros mergulham atrás. Em seu último Relatório Trimestral de Inflação, o Banco Central passa o recado de que em 16 de maio vem mais um corte de 0,25 ponto porcentual nos juros básicos (Selic). Na reunião de junho, pretende dar “uma pausa” no processo de corte dos juros, para ver como a economia se comportará a partir daí. Mas não dá os trâmites por findos. O que vem a seguir dependerá do comportamento da inflação.

O Banco Central quer ter mais elementos para conferir se a queda da inflação é fato meramente conjuntural e, portanto, temporário, ou se é conquista estrutural, que veio para ficar. Se ficar, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, avisa que “será uma revolução no mercado financeiro”. Obrigará os bancos a operar no crédito a padrões internacionais, com nível de juros correspondente a uma fração dos atuais, e obrigará os aplicadores a se conformarem com retornos muito baixos nos investimentos em ativos de renda fixa.

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A recuperação da atividade econômica do Brasil ainda é vacilante. A esta altura do ano, parece improvável que se confirme o avanço do PIB de 3,0%, como projetado pelo Ministério da Fazenda em dezembro. O Banco Central trabalha com 2,6%. E a pesquisa Focus, levantamento feito semanalmente no mercado pelo Banco Central, aponta para 2,89%. O consumidor está relutante em se endividar porque ainda não sente firmeza no futuro, teme pelo resultado das eleições e não sabe se seu salário futuro terá condições de enfrentar as prestações bancárias.

Reflexo dessa relutância e, em boa parte, também causa disso é o comportamento do mercado de trabalho. O nível de desocupação ainda está elevado (12,6% no trimestre móvel terminado em fevereiro, como apontou o IBGE) e a indústria segue devagar quase parando e, algumas vezes, aos trancos. O show continua por conta do agro, no segundo ano consecutivo de supersafra e, desta vez, beneficiado com forte alta dos preços da soja.

Outra área com desempenho excelente é a das contas externas. As exportações crescem ao ritmo próximo dos 15% e o saldo comercial (exportações menos importações), a 33%, números que deverão ser confirmados segunda-feira, quando serão conhecidas as estatísticas de março. Também mostra grande força o influxo de capitais externos de investimento, que aponta para um total líquido de US$ 80 bilhões. Esta é a principal razão pela qual, apesar das incertezas internas e externas, o comportamento das cotações do dólar no câmbio interno se mantém relativamente estável.

A maior nota negativa é o desempenho das contas públicas. O rombo continua mais ou menos dentro do previsto, mas o maior problema é o emperramento das reformas, especialmente a da Previdência Social. É o que empurra a dívida bruta, hoje nos 75,1% do PIB, para perto dos 80% do PIB e daí para sabe-se lá a que alturas. A ameaça é a de a desintegração econômica, social e política que tomou o Estado do Rio se estenda a todo o mapa do Brasil. (Veja, no gráfico acima, a evolução do CDS de 5 anos, que mede a percepção do mercado sobre o risco Brasil.)

A partir deste abril, acirra-se a incerteza maior: a do peito em que pousará em janeiro a faixa presidencial e, também, a do tratamento que terá a política econômica a partir de 2019.

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Voltando à pergunta que inicia esta Coluna, a resposta mais adequada talvez seja dizer que a economia mais vai do que não vai. Infelizmente, isso é pouco, especialmente num momento em que prevalece grande bonanza na economia mundial.

Com a falta de reformas, fica a impressão de que, mais uma vez, o Brasil desperdiça grande oportunidade de fortalecer a economia e de, assim, poder assumir mais decididamente a construção do seu futuro.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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