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Obra que leva água do São Francisco à Paraíba é inaugurada

Entre aplausos e vaias, Temer disse que paternidade da obra de transposição, iniciada no governo Lula, é do ‘povo brasileiro’

Por Alexa Salomão
Atualização:

MONTEIRO (PB) - Aplausos, vaias e um sentimento coletivo de assombro marcaram nesta sexta-feira, 10, a solenidade de inauguração do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco, no município de Monteiro, na Paraíba. O presidente Michel Temer abriu as comportas que liberaram a água no trecho final do projeto. Temer foi acompanhado por uma comitiva de mais de 20 políticos, entre ministros, senadores e deputados nordestinos da base aliada.

Rio Paraíba, seco há seis anos, recebeu uma enxurrada das comportas Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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O clima no evento era de campanha e o fio condutor dos discursos foi a paternidade da transposição. A obra começou no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os petistas se queixam que a gestão Temer tenta se apropriar dos louros do projeto por estar concluindo as obras e inaugurando os trechos finais.

Todos os discursos argumentaram que a transposição foi concebida no Império e levada adiante por vários governos. Temer reforçou que se a paternidade coubesse a alguém seria “ao povo brasileiro”. “Essa obra foi feito com dinheiro público, de impostos. Os senhores é que pagaram por ela”, disse.

O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, porém, apesar de destacar a participação de cada um, chamou a atenção ao ressaltar que o projeto saiu do papel por esforço de Lula e que a ex-presidente Dilma Rousseff havia pago 70% da obra.

Protesto. Antes mesmo da chegada do presidente, um grupo de sindicalistas e ativistas, com cerca de 200 manifestantes, se postou ao lado do palanque, que estava armado sob um toldo e cercado por chapas de alumínio. Apesar do sol escaldante e do calor, os manifestantes passaram a cerimônia inteira proferindo vaias e palavras de ordem contra o governo, abanando cartazes e faixas com “Obrigado Lula” e “Fora Temer”. Do lado de dentro, o cerimonial aumentou o som dos alto falantes e os presentes aplaudiam os discursos com empolgação, transformando o evento numa disputa sonora.

Bem-humorado, Temer falou aos manifestantes. “Agradeço ao pessoal lá fora. São a revelação da democracia que estamos vivendo. E, como estão no sol, no final vão se banhar nas águas do São Francisco”, disse no discurso. Também reforçou ser resistente a críticas. “ Como já disse dom Hélder Câmara, Sou como cana na moenda: por mais que seja espremido, só consigo dar doçura.”

O presidente contou que aquela era sua terceira visita à região e que sempre se impressionara com o “flagelo da seca”. Mas que, dali para frente, esperava ver uma nova realidade, com o avanço da irrigação e da economia local. Em mais uma tirada, disse que até esperava ver “uma ou outra enchentezinha” na Paraíba até o final de seu governo. Para justificar o otimismo, Temer contou que, ao abrir as comportas da transposição, ficara impressionado: “Não era uma vertente de água, era uma enxurrada”.

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As mencionadas comportas ficam na barragem de Campos, a 30 quilômetros, no município vizinho de Sertânia (PE). Após abri-las, Temer se locomoveu de helicóptero para conduzir a inauguração. Enquanto o evento ocorria, a água percorreu o canal da transposição até desembocar no Rio Paraíba, cujo leito passa sob uma ponta na entrada de Monteiro.

Foi de fato uma enxurrada. Completamente seco e empoeirado há seis anos, o Paraíba foi transformado num rio farto e caudaloso em questão de minutos. Os populares que estavam no local ficaram assombrados .

“Isso é bênção de Jesus, que deu sabedoria ao homem para fazer essa obra”, disse João José da Silva, o João da Amélia, de 63 anos, que passou parte da vida carregando água em latão. A poucos metros, Deociano Nascimento, de 45 anos, chorou ao ver o espetáculo. Sua família reside na região há 200 anos. Por gerações, até os seus avós, a rotina foi sofrer com a seca. “Vocês que têm água não sabem o que é viver na seca: essa água é redenção. Hoje começou um nova história para o Nordeste.”