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OCDE eleva projeção do PIB global para 5,8% em 2021, mas retomada é ‘desigual’

Para o Brasil, a organização estima um crescimento do PIB de 3,7% este ano, mas o ritmo lento da vacinação e as novas ondas da epidemia podem agravar a situação

Por Gabriel Caldeira e André Marinho
Atualização:

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) global crescerá 5,8% em 2021 e 4,4% em 2022, em recuperação que a entidade classifica como "significativa, mas desigual" entre países e setores. Os números representam uma leve melhora em relação às projeções anteriores, de expansão de 5,6% este ano e 4% no próximo.

A operação portuária do País já foi totalmente privatizada, seja por meio de autorização ou pelos arrendamentos nos portos públicos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 20/7/2018

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A OCDE também elevou a estimativa de crescimento da economia brasileira. A organização projeta que o PIB do Brasil crescerá 3,7% em 2021 e 2,5% em 2022, impulsionados pela recuperação do consumo das famílias e de investimentos. Em relatório sobre perspectivas econômicas, a entidade também prevê que a inflação ao consumidor avançará a 6,2% este ano, antes de desacelerar a 4% no próximo.

Segundo a análise, o agravamento do coronavírus nos últimos meses complicou os prognósticos para as políticas fiscal e monetária. O documento cita a falta de coordenação na resposta à doença, que tem feito a crise sanitária piorar, em meio a um processo lento de distribuição de vacinas. De qualquer forma, "dados recentes apontam para efeito mais fraco da pandemia sobre a atividade econômica em comparação com um ano atrás", destaca.

A OCDE acredita que a atividade ficará "deprimida" no primeiro semestre, mas deve registrar forte retomada a partir da segunda metade do ano. Para a Organização, o volume considerável de poupança das famílias ajudará a limitar o impacto do desemprego alto na renda. "No geral, a taxa de atividade permanecerá significativamente abaixo dos níveis pré-crise, mantendo milhões trabalhadores fora do mercado de trabalho", ressalta.

O cenário no Brasil contrasta com o de países desenvolvidos onde a vacinação está mais avançada. Enquanto nações desenvolvidas devem completar os seus programas de vacinação contra a covid-19 até o último trimestre deste ano, a maior parte das economias emergentes, com algumas exceções, deve ter de lidar com as restrições provocadas pela pandemia por mais tempo, destaca a OCDE.

O espaço fiscal "apertado" para mais estímulos em países emergentes também os coloca em desvantagem em relação ao mundo desenvolvido, diz a organização, algo que já pode ser comprovado diante do forte aumento das poupanças nos países do G7, o que deve impulsionar os gastos com consumo nestas regiões.

Ainda sobre emergentes, a OCDE avalia que países exportadores de commodities serão beneficiados pela alta nos preços, enquanto economias baseadas no turismo enfrentarão uma recuperação mais lenta.

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Quanto ao mercado de trabalho, o documento espera uma melhora gradual, com a taxa de desemprego dos países da OCDE recuando 1% no período projetado, ainda acima do nível anterior à pandemia de coronavírus. "Empresas em muitos países têm espaço considerável para atender à demanda aprimorada expandindo as horas trabalhadas por funcionário, em vez do tamanho geral de sua força de trabalho", comenta a entidade.

A OCDE ainda projeta que o comércio global deve se fortalecer em 2021, apesar da atividade "persistentemente fraca" do setor de serviços. Caso a pandemia siga provocando restrições sanitárias, e por consequência mine a confiança de potenciais viajantes, o comércio de serviços permanecerá "subjugado", na avaliação da OCDE.

Vacinação desigual

A OCDE também avalia que o aumento no número de casos de coronavírus, o ritmo desigual de vacinação e medidas de restrições à mobilidade estão pesando sobre a recuperação de economias emergentes.

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"Embora o estresse do mercado financeiro seja menor do que há um ano na maioria das economias de mercado emergentes e os fluxos de capital reverteram em grande parte aos níveis anteriores à crise, uma série de riscos internos e externos permanecem", avalia.

Segundo a OCDE, mesmo com o aumento do déficit fiscal, os governos desses países emitiram US$ 3,4 trilhões em dívida em 2020, o que os expõe a riscos referentes ao aumento de custos de empréstimos. A escalada dos juros dos títulos do Tesouro americano, diante do avanço da inflação nos Estados Unidos, pode gerar fuga de capital e volatilidade cambial.

A OCDE considera a aceleração da distribuição de vacinas contra o coronavírus a principal prioridade para preservar renda e limitar os efeitos da pandemia sobre a economia.

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No relatório anual de perspectivas econômicas, a OCDE defende a importância da coordenação global para garantir o acesso a imunizantes. "A falha em garantir a supressão global do vírus aumenta o risco de que novas e mais ameaçadoras mutações apareçam, com algumas restrições à mobilidade tendo que permanecer em vigor", alerta.

A organização também avalia que os países devem intensificar reformas estruturais com objetivo de proteger as economias de choques futuros. Para a entidade, é preciso manter as medidas de apoio fiscal e monetário enquanto for necessário. "A retirada prematura e abrupta do suporte deve ser evitada enquanto as economias ainda estão frágeis e o crescimento permanece prejudicado por medidas de contenção e o ritmo de vacinação", recomenda.

A OCDE pondera que as medidas fiscais devem ser direcionadas para os setores que mais necessitam. "Planos de recuperação também devem priorizar novas medidas, regulatórias e fiscais, que sustentem a demanda, melhorem as perspectivas para digitalização da economia e ajuda no combate às alterações climáticas", destaca.

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