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OMC vive situação perigosa, adverte Azevêdo

Para diretor-geral da entidade, organização precisa deixar 'paralisia' de lado, pensar o futuro e encarar os problemas em uma discussão aberta

Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:
O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo Foto: André Dusek/Estadão

A Organização Mundial do Comércio (OMC) vive o momento mais delicado de sua história e chegou a hora de governos dizerem se ainda querem manter a instituição. O alerta dramático é do brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, que ontem admitiu que o impasse não consegue ser superado nas negociações e a crise já contamina toda a entidade como uma "paralisia".

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Em dezembro de 2013, a OMC conseguiu fechar um acordo comercial, o primeiro em 20 anos da história da entidade. Mas, no momento de sua implementação, uma disputa entre Índia e Estados Unidos impediu que o acordo fosse firmado. Em julho, o processo fracassou e Azevêdo deu aos negociadores até esta semana para chegar a um compromisso.

Mais uma vez, o processo não andou e agora o brasileiro admite claramente pela primeira vez que o futuro da entidade que está em jogo. Segundo ele, nem mesmo se conseguiu chegar a um consenso na elaboração de um cronograma até o fim do ano. "Não encontramos solução para o impasse que vivemos", declarou o brasileiro, que assumiu a entidade em 2013.

"Essa pode ser a situação mais séria que essa organização já enfrentou", advertiu. Eu já havia alertado antes sobre a situação potencialmente perigosa e pedi que governos tomassem medidas para evitá-la", disse o brasileiro. "Hoje, não estou fazendo um alerta sobre uma potencial situação perigosa. O que estou dizendo é que estamos vivendo ela agora mesmo", insistiu. "Precisamos pensar sobre nossos próximos passos."

O que mais o preocupa é que, diante da crise, a "falta de confiança" entre os governos está "paralisando o trabalho" em todas as áreas. "Sinto que continuar nessa paralisia apenas degrada a instituição."

Repensar. Para ele, está claro que "o trabalho sobre a substância dificilmente avançará". Para os indianos, só deve haver um acordo para facilitar os fluxos comerciais se Nova Délhi receber garantias de que seus agricultores serão protegidos. Washington recusa a exigência.

Na avaliação de Azevedo, chegou a hora de os governos pensarem o querem para o futuro da entidade. "Precisamos começar a discutir o futuro. Chegou o momento de encarar os problemas e ter uma discussão aberta", apelou. Segundo ele, governos já falam em buscar acordos comerciais fora da OMC. "Podemos ver governos se desengajando da OMC e buscando outros caminhos."

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O temor é de que governos como o dos EUA, da Europa ou da China embarquem em acordos bilaterais e abandonem o sistema multilateral.

Ontem, o governo americano deixou claro que teme pelo pior. "A boa-fé entre as delegações desapareceu", indicou o embaixador dos EUA Michael Punke. "Ela foi substituída por questões sobre se qualquer acordo multilateral é mesmo possível."

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