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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Os dias seguintes

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Atualização:

A vitória contundente do “não” às exigências dos credores da Grécia no plebiscito de domingo não pode ser vista como mais do que é. É apenas a manifestação da vontade, também contundente, do povo grego de reduzir os sacrifícios exigidos para continuar como sócio do clube do euro. Falta combinar com quem está no outro lado da mesa. Estão em jogo também os direitos e os interesses dos outros sócios.

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Ao contrário do que poderia parecer após a divulgação dos resultados da consulta popular, a bola não passou para os credores. Continua com o governo da Grécia, que agora tem de apresentar contraproposta aceitável para a retomada das negociações das condições da dívida. Não pode, por exemplo, ser considerado vitorioso o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, que se encheu de glória com o resultado das urnas, mas foi obrigado a demitir-se “para facilitar as negociações”.

A chave de braço em torno do pescoço da Grécia vai asfixiando a atividade econômica, na medida em que o país não pode reabrir seus bancos, sob pena de produzir um cataclismo financeiro. O regime de racionamento das retiradas (60 euros por dia) pode manter-se por mais algum tempo - quem sabe, apenas por algumas semanas. A ameaça de colapso do sistema de pagamentos empurra a Grécia para as negociações. Se o governo Tsipras não conseguir que o Banco Central Europeu aumente a injeção de oxigênio para os pulmões dos seus bancos, não lhe sobraria outra opção senão pagar contas e aposentadorias por meio de “vales” e, em seguida, instituir moeda própria e abandonar o euro e os confortos que traz.

Tsipras.Começar de novo Foto: Christian Hartmann/Reuters

Ninguém quer isso. Nem os gregos, como reafirmou nesta segunda-feira o primeiro-ministro Tsipras, nem os demais europeus, que não querem o precedente de uma rachadura na unidade monetária, com o que poderá vir depois.

Os gregos também sabem que não podem esticar indefinidamente a corda, porque o pretendido perdão ainda que parcial da dívida (haircut) implicaria empurrar para os demais sócios a carga que os gregos não aceitam pagar. E entre esses sócios que teriam de assumir parcelas dessa conta estão Portugal, Irlanda, Itália e Espanha, que até agora enfrentaram, com o estoicismo possível, a mesma receita de austeridade, suor e lágrimas exigida dos gregos.

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Os credores sabem que surfam em prancha rachada. O euro é moeda que nasceu sem contar com uma união política nem com uma união fiscal. Sempre que, independentemente das responsabilidades a serem cobradas, um dos membros da área não conseguir honrar os compromissos sacramentados nos tratados, como a Grécia agora, não conta com mecanismos automáticos de transferências de renda, como conta qualquer Estado do Brasil ou dos Estados

Unidos se fosse atingido por uma catástrofe natural ou financeira. As duras e intermináveis negociações a que se submete agora a Grécia consistem em arrancar essas transferências que, de resto, serão sempre parciais e, eventualmente, difíceis de sustentar.

Independentemente do resultado do plebiscito, o desfecho da crise continua imprevisível.

CONFIRA

Esta é a evolução da inflação esperada para fim de 2016 pelas cerca de cem instituições auscultadas semanalmente pelo Banco Central (BC) por meio da Pesquisa Focus.

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Equilíbrio delicado Mal ou bem, o BC vai conseguindo arrastar as expectativas do mercado para seu objetivo de fechar 2016 com uma inflação na meta (4,5%). Ainda falta um bom pedaço para chegar lá, mas as projeções do mercado vão convergindo devagar para esse ponto. Mas a convergência é um objetivo de equilíbrio delicado em que qualquer desleixo pode ser a gota d’água.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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