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Os três tipos de desemprego

Sejam quais forem as causas, os governos precisam compreender o desemprego estrutural: crescimento é suficiente para conseguir trabalho para todos

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Por Redação
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Fila de desempregados nos EUA: crise estrutural Foto: AP

Durante a recente retração da economia, a taxa de desemprego nos Estados Unidos saltou de 4,4% para 10%. O crescimento econômico de lá para cá se recuperou. Mas o desemprego ainda está longe dos níveis de antes da crise. A taxa nos EUA, 6,2%, ainda está 40% acima do que estava em fins de 2006. Economistas estão recorrendo ao espectro do desemprego "estrutural" para explicar este enigma. O que é isso?

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Os economistas com frequência se referem a três tipos de desemprego: "friccional", "cíclico" e "estrutural". 

Economistas desalmados não costumam se importar com os dois primeiros, que se referem a pessoas que mudam de um emprego para outro e às que são temporariamente dispensadas durante uma recessão. 

O terceiro tipo se refere a pessoas que são excluídas - talvez permanentemente - do mercado de trabalho. No jargão econômico, desemprego estrutural tem a ver com a discrepância entre o número de pessoas que estão procurando emprego e o número de empregos disponíveis. 

Isto é uma má notícia tanto para os que sofrem com ela como para a sociedade em que vivem. Pessoas sem trabalho por longos períodos tendem a ter a saúde pior do que a média. Os estruturalmente desempregados tampem pressionam os orçamentos da seguridade social.

O desemprego estrutural em economias avançadas vem aumentando há décadas à medida que setores como mineração e produção manufatureira encolhem. Na Grã-Bretanha, entre 1984 e 1992, o emprego na mineração de carvão caiu 77% e na siderurgia, 72%. Comunidades que foram construídas em torno de uma única atividade profissional foram devastadas. 

Muitas pessoas afetadas só tinham experiência num emprego de alta e específica especialização. Elas não tinham as habilidades ou atributos necessários para se dar bem em muitos empregos no setor de serviços (como trabalhar num call center ou restaurante). Com isso, ficaram estruturalmente desempregadas. 

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Um problema diferente pode estar afligindo as economias avançadas hoje. A retração foi realmente terrível e durou anos. Muitas pessoas desistiram de procurar emprego e se retiraram da força de trabalho. Nos EUA, o número destes "trabalhadores desanimados" saltou de 370 mil em 2007 para 1,2 milhão em 2010 (hoje ele é o dobro de seu nível de 2007). 

Dos desempregados há mais de um ano, a probabilidade é que apenas um terço encontre trabalho, como os desempregados a menos de seis meses: os empregadores acreditam que os desempregados em períodos mais curtos de tempo são mais motivados e especializados. Portanto, o desemprego prolongado pode se transformar em desemprego estrutural.

Mas o desemprego estrutural não é um simples produto de crises econômicas. Karl Marx (que se considerava um economista) se referia a "um exército industrial de reserva". Marx defendia que o capitalismo dependia de haver pessoas sem trabalho. 

A existência dos desempregados asseguraria que os trabalhadores ficassem assustados demais para pleitear aumentos salariais. Os capitalistas dependiam do desemprego para manter baixos seus custos. Marx exagerou, mas a maioria dos economistas aceitaria que um certo nível de desemprego é inevitável: uma tentativa de alcançar o pleno emprego provocaria uma inflação salarial em massa.

Sejam quais forem as suas causas, os governos precisam compreender o desemprego estrutural. O crescimento econômico em si não será suficiente para conseguir trabalho para todos. Reformas no lado da oferta, com o treinamento de mão de obra (conhecido pelos especialistas como "políticas ativas para o mercado de trabalho") também são necessárias.

© 2014 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados.

Da Economist.com, traduzido por Celso Paciornik, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado no site www.economist.com

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