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País pode enfrentar novo tsunami cambial

Após ser confirmado o impeachment e com a aprovação de algumas reformas econômicas essenciais, especialmente para o ajuste fiscal, a expectativa dos agentes econômicos, do presidente interino e de sua equipe é de retomada do crescimento. Assim, os investidores, inclusive os externos, devem voltar a investir no País.

Por Nathan Blanche
Atualização:

O baixo crescimento dos países desenvolvidos e a expectativa de políticas monetárias frouxas por muito tempo sinalizam um cenário de crescimento moderado nos mesmos. E a liquidez no mercado internacional é ampla e está à procura de retornos melhores.

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No Brasil, além do baixo nível da poupança doméstica de 14% do PIB, mais de 70% desta disponível no mercado se destina às necessidades de financiamento do setor público, que, por um bom tempo, serão crescentes. Neste contexto, o Brasil está diante de uma janela de oportunidade para financiar boa parte dos tão necessários investimentos para crescer com recursos externos. Para isso, faz-se necessário fazer a lição de casa.

Com mudanças nas expectativas em decorrência do afastamento do governo PT, o prêmio de risco país (CDS) cedeu de 500 bps para 300 bps e o real apreciou 20% no 1.º semestre. Em 2015, o real desvalorizou mais de 40%, resultado das incertezas decorrentes da continuidade do governo Dilma. A moeda nacional tornou-se a campeã da volatilidade no mercado internacional. Com a materialização do impeachment e a implementação da agenda econômica sinalizada pela nova equipe econômica, que inclui controle dos déficits públicos nas três esferas, abertura da economia, privatizações e concessões em infraestrutura, o prêmio de risco país deve ceder ainda mais, aproximando-se de 200 bps até 2018.

Para o biênio 2016-2017, a previsão é de melhoras substanciais nas contas externas. O déficit em conta corrente, que atingiu 4,3% do PIB em 2014, deve ceder para 0,6% neste ano. A sobra de dólares estimada no balanço de pagamentos em 2016 é de US$ 20 bilhões e deve atingir US$ 56 bilhões em 2017.

O que deve então acontecer com o real? O influxo de capital externo deve resultar em forte e rápida apreciação da moeda brasileira, justamente num momento em que o setor externo contribui positivamente para o crescimento econômico. Uma evidência nesta linha é que a Argentina, após renegociar os holdouts, com prêmio de risco acima de 400 bps, obteve mais de US$ 60 bilhões de ofertas para seu IPO.

A questão que se coloca para o novo governo é simplesmente se ele deixaria a moeda apreciar e buscar seu ponto de equilíbrio ou adotaria medidas voltando ao passado, como IOF, quarentenas ou a própria compra de dólares no mercado à vista ou futuro, já tendo um amplo colchão de reservas de US$ 370 bilhões, cujo carrego é altamente oneroso para o Tesouro Nacional. A situação é no mínimo esdrúxula, pois, apesar de estarmos a caminho de superar os enormes desafios, podemos ter de lidar com um forte influxo de dólares, caso a nova agenda econômica seja aprovada.

A possibilidade do sucesso reforça a necessidade de avanço na agenda de abertura comercial e da importância da formação de taxa de câmbio por meio de mecanismo de mercado (câmbio flutuante). Os sinais dados pelo novo presidente do Banco Central (BC) são positivos, pois apontam para a necessidade de reduzir o saldo do estoque das intervenções dos últimos anos (o estoque de swaps cambiais é de US$ 60 bilhões) e para a importância do câmbio flutuante, ainda que sujeito a intervenções pontuais.

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Em suma, a materialização do impeachment e o encaminhamento de agendas essenciais para o controle do déficit fiscal podem fazer com que o País tenha de lidar novamente com um forte influxo de dólares. Espera-se que o remédio sejam mudanças estruturais, com maior integração da economia brasileira à economia mundial e câmbio flutuante. Remédios usados no passado, como barreiras fiscais, contribuiriam para elevar as incertezas e encobrir a necessidade de mudanças profundas na estrutura da economia brasileira.

*É sócio-diretor da Tendências Consultoria