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‘País vive um alinhamento de estrelas’

Em entrevista ao 'Estado', gestor de um dos maiores fundos de multimercado do Brasil aponta tendências

Por Álvaro Campos
Atualização:
Luiz Parreiras, gestor de multimercados da Verde Asset Foto: Estadão

Os administradores do Fundo Verde, um dos maiores fundos de multimercado do Brasil, são conhecidos por antecipar tendências e conseguir retornos difíceis de replicar. Para Luiz Parreiras, da Verde Asset, o otimismo do mercado está ligado a uma “confluência de fatores globais e locais” – que correm o risco de serem revertidos. A seguir, trechos da entrevista.

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Há uma onda de otimismo com o País. A que se deve isso?

Temos a confluência de fatores globais e locais. Os fatores locais têm a ver com a mudança política e a entrada de uma equipe econômica muito mais alinhada com o que o mercado, de maneira geral, acredita que deveria ser. Os fatores globais, que são tão ou até mais relevantes, têm a ver com três eixos: a queda generalizada das taxas de juros no mundo inteiro, uma certa estabilização do cenário de crescimento na China e a volta do apetite por investimentos em emergentes. Entre 2013 e 2015, os investidores globais tentaram sair desses mercados. Agora, talvez por visão de que os países emergentes fizeram um pouco da lição de casa e os preços dos ativos se corrigiram, isso mudou. Então, há um alinhamento das estrelas.

A China pode voltar a ser um fator de risco?

Começamos a ver sinais de retirada de estímulo. Isso pode bagunçar a situação para o Brasil, principalmente em termos de preço de mercado, e reduzir muito a ‘quase euforia’ atual.

O dinheiro que está entrando no Brasil é apenas capital especulativo? Há o risco de reversão nesses fluxos?

Uma parte relevante do dinheiro que está vindo é sim de caráter especulativo, de curto prazo, e por isso está bastante sujeito a esse tipo de risco.

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Alguns analistas dizem que a qualidade desses fluxos deve mudar após a aprovação final do impeachment, em direção a investimentos produtivos. Vocês concordam com essa visão?

É possível que, passado o impeachment, mude a qualidade do fluxo. É um grande tema de debate no mercado e muita gente acredita que isso vai acontecer. Eu tendo a ter um pequeno ceticismo em relação a isso. O mercado tende a antecipar a maior parte das coisas e eu acho que está, de certa maneira, antecipando esse fenômeno. Não estou dizendo que não vai haver esse fluxo, mas não vai ser um ‘tsunami’ de dinheiro como alguns dizem. Esse capital voltado para a economia real também é sensível a preços e investir no Brasil já é mais caro do que era há seis meses.

O investidor estrangeiro parece estar mais otimista do que o local. Por quê?

O estrangeiro que ouve o discurso de Henrique Meirelles, do Ilan Goldfajn, vê que é muito bom e acha que tudo aquilo vai se tornar realidade. O investidor local tem um pouco mais de cautela e compreensão de que nem tudo vai ser entregue.

Até onde vai a ‘lua de mel’ dos mercados com o governo?

Essa é uma pergunta que a gente se faz todo dia. A lua de mel pode durar, mas não é infinita. A duração vai ser dada por fatores locais, como qual vai ser o tipo de PEC de gastos que será aprovado, quais as características da reforma da Previdência que vai ser apresentada. Ao mesmo tempo, se os fatores globais começarem a se desequilibrar, o mercado vai ser mais cauteloso, vai olhar essas coisas com lupa.

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